SILVANA ARANTES
Enviada especial da Folha de S.Paulo a Berlim
A primeira sessão de "Garapa" no 59º Festival de Berlim, anteontem, começou com calorosa acolhida ao diretor José Padilha ("Tropa de Elite").
"Esta é uma noite especial, porque estamos recebendo o vencedor do Urso de Ouro do ano passado, com um documentário impressionante", disse Wieland Speck, diretor da mostra Panorama, a uma plateia que se espalhava até pelas escadas do cinema.
Divulgação
"Garapa", de José Padilha, teve exibição no festival na mostra paralela Panorama; em 2008, cineasta levou Urso de Ouro
Speck recomendou ao público que não se esquecesse de depositar o voto com a avaliação do filme, ao final, e lembrou que por três vezes um documentário venceu o Panorama.
Duas horas mais tarde, um pesado silêncio acompanhou o fim da projeção do filme, que acompanha três famílias sujeitas à fome no Nordeste brasileiro e se encerra com a estimativa de que, durante o tempo da sessão, "1.400 crianças morreram de causas relacionadas à fome ao redor do mundo".
"Vamos dar ao público um tempo para lidar com o que acaba de ver", sugeriu o mediador do encontro de Padilha com os espectadores.
O cineasta brasileiro salientou que "'Garapa' não é um filme local", já que situações semelhantes se repetem "na China, na Índia, na África", onde o problema da fome atinge parcela da população.
O público quis saber sobre o programa Fome Zero, mencionado no longa. Padilha disse que a iniciativa federal alcançou bons resultados no combate à fome e que a maior qualidade do projeto reside na simplicidade. "É um programa que dá dinheiro a pessoas muito pobres. Em geral, governos se atrapalham ao tentar fazer coisas complicadas", afirmou.
Quando questionado sobre por que filmou "Garapa" em preto e branco, ele respondeu: "Decidimos tirar do filme tudo que não fosse fundamental".
Padilha avalia "que a fome é o mais grave problema social da atualidade" e repisou cifras citadas no filme: "A solução do problema da fome exigiria um investimento de US$ 30 bilhões por ano; em 2008 o mundo gastou US$ 1,5 trilhão em armas. Acho que isso diz muito sobre a raça humana".
A plateia aplaudiu quando o diretor disse julgar que "esse problema só será resolvido quando os políticos forem colocados numa situação de não mais se elegerem se não derem uma solução para ele".
Poder de comunicação
Antes da exibição de "Garapa", Padilha apontou a empatia do público com os personagens como o pilar do poder de comunicação do cinema. "Você pode usar isso em filmes para entreter e pode também usar para dar [ao público] consciência de problemas sociais."A intenção de "Garapa", explicou, "é ver a fome não por uma perspectiva intelectual, mas do ponto de vista dos que têm que viver com ela".
Ao recuperar a palavra, o público deixou a sala repetindo adjetivos como "triste" e "forte". Ontem, Padilha passou o dia dando entrevistas a órgãos de imprensa de vários países. Apesar do interesse que "Garapa" despertou, Padilha disse à Folha: "Esse não é um filme com o qual eu possa ficar feliz".
"Esta é uma noite especial, porque estamos recebendo o vencedor do Urso de Ouro do ano passado, com um documentário impressionante", disse Wieland Speck, diretor da mostra Panorama, a uma plateia que se espalhava até pelas escadas do cinema.
Divulgação
"Garapa", de José Padilha, teve exibição no festival na mostra paralela Panorama; em 2008, cineasta levou Urso de Ouro
Speck recomendou ao público que não se esquecesse de depositar o voto com a avaliação do filme, ao final, e lembrou que por três vezes um documentário venceu o Panorama.
Duas horas mais tarde, um pesado silêncio acompanhou o fim da projeção do filme, que acompanha três famílias sujeitas à fome no Nordeste brasileiro e se encerra com a estimativa de que, durante o tempo da sessão, "1.400 crianças morreram de causas relacionadas à fome ao redor do mundo".
"Vamos dar ao público um tempo para lidar com o que acaba de ver", sugeriu o mediador do encontro de Padilha com os espectadores.
O cineasta brasileiro salientou que "'Garapa' não é um filme local", já que situações semelhantes se repetem "na China, na Índia, na África", onde o problema da fome atinge parcela da população.
O público quis saber sobre o programa Fome Zero, mencionado no longa. Padilha disse que a iniciativa federal alcançou bons resultados no combate à fome e que a maior qualidade do projeto reside na simplicidade. "É um programa que dá dinheiro a pessoas muito pobres. Em geral, governos se atrapalham ao tentar fazer coisas complicadas", afirmou.
Quando questionado sobre por que filmou "Garapa" em preto e branco, ele respondeu: "Decidimos tirar do filme tudo que não fosse fundamental".
Padilha avalia "que a fome é o mais grave problema social da atualidade" e repisou cifras citadas no filme: "A solução do problema da fome exigiria um investimento de US$ 30 bilhões por ano; em 2008 o mundo gastou US$ 1,5 trilhão em armas. Acho que isso diz muito sobre a raça humana".
A plateia aplaudiu quando o diretor disse julgar que "esse problema só será resolvido quando os políticos forem colocados numa situação de não mais se elegerem se não derem uma solução para ele".
Poder de comunicação
Antes da exibição de "Garapa", Padilha apontou a empatia do público com os personagens como o pilar do poder de comunicação do cinema. "Você pode usar isso em filmes para entreter e pode também usar para dar [ao público] consciência de problemas sociais."A intenção de "Garapa", explicou, "é ver a fome não por uma perspectiva intelectual, mas do ponto de vista dos que têm que viver com ela".
Ao recuperar a palavra, o público deixou a sala repetindo adjetivos como "triste" e "forte". Ontem, Padilha passou o dia dando entrevistas a órgãos de imprensa de vários países. Apesar do interesse que "Garapa" despertou, Padilha disse à Folha: "Esse não é um filme com o qual eu possa ficar feliz".
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