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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Brasil quer ciência de primeiro mundo


Caro, complexo, demorado — e fundamental. Ao investir no maior programa de bolsas internacionais para estudantes brasileiros já realizado, o governo tenta elevar o patamar da ciência nacional

Cristiane Mano, de 




Os bolsistas Jaeger, Adonno e Fidelis (da esq. para a dir.)
Os bolsistas Jaeger, Adonno e Fidelis (da esq. para a dir.): estágio na Nasa
Nova York - Assim como milhares de universitários brasileiros, os três jovens retratados na foto ao lado aguardam ansiosos o início de seu primeiro estágio. Para eles, a estreia vem acompanhada de uma dose extra de expectativa. No início de maio, eles serão os mais novos integrantes da equipe de pesquisadores da Nasa, agência espacial que, mais de quatro décadas atrás, levou pela primeira vez o homem à Lua.
O destino dos três se cruzou em janeiro, quando eles ganharam uma bolsa de estudo para completar o quarto ano da faculdade na Universidade Católica de Washington, nos Estados Unidos. O paranaen­se Fernando Jaeger, de 23 anos, e o mineiro Tito Fidelis, de 25 anos, estudam engenharia mecânica no Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), no interior de São Paulo.
O paulista Victor Adonno, de 21 anos, cursa matemática na Universidade de São Paulo. A experiência nos Estados Unidos durará um ano e foi totalmente organizada e patrocinada pelo governo brasileiro — do valor do curso à acomodação,  e até uma verba de 1 000 dólares para que cada estudante compre um computador.
Ao final de um ano de estudo, Jaeger, Fidelis e Adonno devem voltar ao Brasil para concluir a graduação na escola de origem. “Nunca sonhei que teria uma oportunidade como essa”, diz Jaeger, prestes a se integrar a um projeto de um robô de exploração espacial.
Os três estudantes fazem parte da primeira leva de bolsistas do maior programa de intercâmbio educacional já realizado no Brasil — o Ciência sem Fronteiras, lançado em dezembro de 2011. O custo do programa impressiona. Com investimento de 3,2 bilhões de reais, o Ciência sem Fronteiras deverá distribuir  101 000 bolsas de estudo para brasileiros até 2015.
Só participam da seleção alunos de ciências exatas ou biológicas — como engenharia, medicina e computação, áreas em que o Brasil demonstra profunda carência de profissionais qualificados. A escolha dos bolsistas é feita com base em mérito: considera o desempenho acadêmico, a participação em pesquisas científicas e prêmios ganhos em competições universitárias.
Cerca de 4 500 estudantes escolhidos já estão fora do país, a maior parte para completar um ano de estudo nas modalidades de doutorado ou graduação. Outros 10 000 devem embarcar até o fim deste ano para estudar em quase uma centena de universidades de 30 países. Caso bata a meta, o Ciência sem Fronteiras triplicará o atual número de bolsas de estudo internacionais financiadas pelo governo.
Durante a viagem aos Estados Unidos programada para o dia 9 de abril, a presidente Dilma Rousseff deverá assinar acordos com dez das mais conceituadas universidades americanas, como Harvard e Massachusetts Institute of Technology (MIT).
“Hoje, esse é o maior programa de bolsas organizado por um governo para trazer estudantes estrangeiros aos Estados Unidos”, diz Allan Goodman, diretor do Institute of International Education, órgão contratado pelo governo brasileiro para fazer parcerias com instituições americanas. “Nunca vi nada com a mesma proporção em tão pouco tempo.”
O primeiro esforço para ampliar o envio de brasileiros a universidades estrangeiras ocorreu nos anos 70, quando o número de bolsistas no exterior foi multiplicado por 20. No início daquela década, cerca de 70 bolsistas brasileiros estudavam em outros países, apenas no nível de graduação
Em 1978, havia 1 200 deles. “Na época, o impulso foi fundamental para garantir, por exemplo, a criação de empresas de tecnologia como a Embraer”, diz Márcio de Castro, diretor de relações internacionais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal­ de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação. “Esperamos obter um novo salto tecnológico no país­ com a conclusão do programa atual.”
O projeto foi organizado, entre abril e agosto de 2011, pelos minis­térios da Ciên­cia, Tecnologia e Inovação e da Educação. A prioridade foi convencer empresas e entidades de classe a bancar 26 000 bolsas — tarefa à qual a presidente se dedicou pessoalmente. A maior patrocinadora é a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), com 6 500 alunos.
Entre as empresas, as maiores são Petrobras, com 5 000, e Eletrobras, com 2 500. Boa parte das par­cerias com as universidades estrangeiras, no entanto, ainda está em negociação. Delegações com cerca de 20 reitores brasileiros já viajaram para paí­ses como Estados Unidos, Itália e França.
Uma das metas é aumentar a proporção de alunos que já saem do Brasil com curso e estágio garantidos — o que ainda é exceção. É o caso do acordo firmado com a fabricante de aeronaves Boeing, patrocinadora de 14 bolsas para alunos de graduação em engenharia que chegaram em janeiro aos Estados Unidos e iniciarão em maio um estágio na fábrica da companhia, em Seattle.
Os alunos têm acompanhamento individual de um engenheiro da Boeing para aplicar conceitos aprendidos em sala de aula. “Nunca fizemos nada semelhante antes e esperamos que a experiência tenha bons resultados”, diz Donna Hrinak, presidente da Boeing para o Brasil.
No caso dos estagiários da Nasa, a parceria surgiu da iniciativa da paulista Duília de Mello, pesquisadora da agência espacial e professora de astronomia da Universidade Católica de Washington. “Procurei o governo brasileiro assim que soube das vagas”, diz Duília.
Há vários méritos no Ciência sem Fronteiras. Mas, talvez, o maior deles seja a rara decisão de investir em algo que é e continuará sendo o fundamento para o sucesso do país: a educação de qualidade. Os resultados não aparecerão amanhã. Educação é para quem acredita no longo prazo.
Os custos são altos e, quando comparado a outros países emergentes, o Brasil está atrasado. Hoje, há 160 000 alunos chineses em universidades americanas. Os brasileiros não chegavam a 9 000 até 2011. Com o programa, serão 30 000 por ano.
Ainda assim — e por tudo isso —, o programa é fundamental. Basta ver o que vem acontecendo na China, país que na década de 70 assumiu a missão de abrir as portas das melhores universidades do mundo para seus estudantes. (Hoje, apenas 5% dos chineses que frequentam universidades americanas são bolsistas.) Ao retornar, engenheiros, matemáticos e biólogos formados no exterior ajudaram a colocar a China no caminho da inovação.
Desde 2000, o número de patentes depositadas no país cresceu 450%. “A iniciativa brasileira tem mérito”, diz o economista Gustavo Ioschpe, especialista em educação. “Mas, diferentemente do Brasil, países como China e Coreia do Sul aliaram medidas semelhantes a uma política para criar centros de excelência dentro de casa e em educação de base.”
Poucos bilíngues
Uma barreira para a expansão do Ciência sem Fronteiras é justamente a deficiência na formação de boa parte dos estudantes brasileiros. Dos 7 000 inscritos para a primeira turma do intercâmbio de graduação, cerca de 2 000 preencheram os requisitos técnicos — 25% deles, no entanto, foram barrados por falta de fluência em inglês.
Na segunda turma de graduandos, que deve embarcar no segundo semestre, alunos com notas inferiores à média nesse quesito serão aceitos e frequentarão um curso prévio de dois meses para melhorar o domínio do idioma. Para quem já tentou fazer ciência no país no passado, a ida de mais brasileiros aos melhores centros de ensino do mundo é um inquestionável avanço.
Doutora em astrofísica pela Universidade de São Paulo, a pesquisadora da Nasa Duília de Mello mudou-se para os Estados Unidos há 15 anos, quando a bolsa que a mantinha como pesquisadora do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, foi cortada pela metade. “Deixei um país que dava desânimo”, diz ela. “Hoje, pelo menos vejo sinais de que querem levar ciência mais a sério.”

Com reportagem de Márcio Kroehn



Planeta não é sustentável sem controle do consumo e população , diz relatório


Planeta não é sustentável sem controle do consumo e população , diz relatório

26 abr 2012 13:45 BSB
Lavoura de milho/Reuters
O consumo excessivo em países ricos e o rápido crescimento populacional nos países mais pobres precisam ser controlados para que a humanidade possa viver de forma sustentável.
A conclusão é de um estudo de dois anos de um grupo de especialistas coordenados pela Royal Society (associação britânica de cientistas).
Entre as recomendações dos cientistas estão dar a todas as mulheres o acesso a planejamento familiar, deixar de usar o Produto Interno Bruto (PIB) como um indicativo de saúde econômica e reduzir o desperdício de comida.
O relatório da Royal Society será um dos referenciais para as discussões da Rio+20, cúpula que acontecerá na capital fluminense em junho próximo.
"Este é um período de extrema importância para a população e para o planeta, com mudanças profundas na saúde humana e na natureza", disse John Sulston, presidente do grupo responsável pelo relatório.
"Para onde vamos depende da vontade humana - não é algo predestinado, não é um ato de qualquer coisa fora (do controle) da humanidade, está em nossas mãos".
John Sulston ganhou renome internacional ao liderar a equipe britânica que participou do Human Genome Project, projeto responsável pelo mapeamento do genoma humano.
Em 2002, ele foi ganhador, junto com outro cientista, de um prêmio Nobel de Medicina, e hoje é diretor do Institute for Science Ethics and Innovation, na Manchester University, em Manchester.

Discussão retomada

Embora o tamanho da população humana da Terra fosse no passado um importante ponto de discussão em debates sobre o meio ambiente, o assunto saiu da pauta de discussões recentemente.
Em parte, isso aconteceu porque alguns cientistas chegaram à conclusão de que a Terra seria capaz de suportar mais pessoas do que o imaginado. Além disso, países em desenvolvimento passaram a considerar a questão como uma cortina de fumaça criada por nações ocidentais para mascarar o problema do excesso de consumo.
Entretanto, o tema voltou à pauta de discussões após novos estudos terem mostrado que mulheres em países mais pobres, de maneira geral, desejam ter acesso ao planejamento familiar, o que traria benefícios à suas comunidades.
Segundo a projeção "média" da ONU, a população do planeta, atualmente com 7 bilhões de pessoas, atingiria um pico de pouco mais de 10 bilhões no final do século e depois começaria a cair.
"Dos três bilhões extra de pessoas que esperamos ter, a maioria virá dos países menos desenvolvidos", disse Eliya Zulu, diretora execuriva do African Institute for Development Policy, em Nairóbi, no Quênia. "Só na África, a população deve aumentar em 2 bilhões".
"Temos de investir em planejamento familiar nesses países - (desta forma,) damos poder às mulheres, melhoramos a saúde da criança e da mãe e damos maior oportunidade aos países mais pobres de investir em educação".
O relatório recomenda que nações desenvolvidas apoiem o acesso universal ao planejamento familiar - o que, o estudo calcula, custaria US$ 6 bilhões por ano.
Se o índice de fertilidade nos países menos desenvolvidos não cair para os níveis observados no resto do mundo - alerta o documento - a população do planeta em 2100 pode chegar a 22 bilhões, dos quais 17 bilhões seriam africanos.

Ultrapassando Fronteiras

O relatório é da opinião de que a humanidade já ultrapassou as fronteiras planetárias "seguras" em termos de perda de biodiversidade, mudança climática e ciclo do nitrogênio, sob risco de sérios impactos futuros.
Segundo a Royal Society, além do planejamento familiar e da educação universal, a prioridade deve ser também retirar da pobreza extrema 1,3 bilhão de pessoas.
E se isso significa um aumento no consumo de alimentos, água e outros recursos, é isso mesmo o que deve ser feito, dizem os autores do relatório.
Nesse meio tempo, os mais ricos precisam diminuir a quantidade de recursos materiais que consomem, embora isso talvez não afete o padrão de vida.
Eliminar o desperdício de comida, diminuir a queima de combustíveis fósseis e substituir economias de produtos por serviços são algumas das medidas simples que os cientistas recomendam para reduzir os gastos de recursos naturais sem diminuir a prosperidade de seus cidadãos.
"Uma criança no mundo desenvolvido consome entre 30 e 50 vezes mais água do que as do mundo em desenvolvimento", disse Sulston. "A produção de gás carbônico, um indicador do uso de energia, também pode ser 50 vezes maior".
"Não podemos conceber um mundo que continue sendo tão desigual, ou que se torne ainda mais desigual".
Países em desenvolvimento, assim como nações de renda média, começam a sentir o impacto do excesso de consumo observado no Ocidente. Um dos sintomas disso é a obesidade.

PIB

A Royal Society diz que é fundamental abandonar o uso do PIB como único indicador da saúde de uma economia.
Em seu lugar, países precisam adotar um medidor que avalie o "capital natural", ou seja, os produtos e serviços que a natureza oferece gratuitamente.
"Temos que ir além do PIB. Ou fazemos isso voluntariamente ou pressionados por um planeta finito", diz Jules Pretty, professor de meio ambiente e sociedade na universidade de Essex.
"O meio ambiente é de certa forma a economia... e você pode discutir gerenciamentos econômicos para melhorar as vidas de pessoas que não prejudique o capital natural, mas sim o melhore", completa.
O encontro do Rio+20 em junho deve gerar um acordo com uma série de "metas de desenvolvimento sustentável", para substituir as atuais metas de desenvolvimento do milênio, que vem ajudando na redução da pobreza e melhoria da saúde e educação em países em desenvolvimento.
Não está claro se as novas metas vão pedir o compromisso de que os países ricos diminuam seus níveis de consumo.
Governos podem ainda concordar durante o encontro no Rio a usar outros indicadores econômicos além do PIB.

Deputados querem poder para mudar decisões do STF


Bancadas evangélica e católica ajudam a aprovar texto na CCJ, a fim de combater ‘ativismo judiciário’ em questões como aborto

Segunda, 25 de Abril de 2012, 22h41


A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou nesta quarta-feira, 25, proposta de emenda constitucional que permite ao Congresso sustar decisões do Judiciário. Nesta quinta-feira, 26, o Legislativo só pode mudar atos do Executivo. A proposição seguirá para uma comissão especial.
A polêmica proposta foi aprovada por unanimidade após uma articulação de deputados evangélicos e católicos. Para eles, a medida é uma resposta à decisão do Supremo Tribunal Federal, que legalizou o aborto de fetos anencéfalos. Se a regra já estivesse em vigor, os parlamentares poderiam tentar reverter a permissão de interromper a gravidez nesses casos.
O texto considera de competência do Congresso sustar "atos normativos dos outros poderes que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa". Além de resoluções de tribunais e atos de conselhos, há deputados que acham ser possível sustar decisões do Supremo com repercussão geral e até súmulas vinculantes.
Autor da proposta, o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), argumenta que o Legislativo precisa ser o poder mais forte da República, por seu caráter representativo, e que decisões do Judiciário nos últimos anos têm ido além do que diz a Constituição.
"O Poder Judiciário - que não foi eleito, é nomeado - não tem legitimidade para legislar. É isso que desejamos restabelecer para fortalecer o Legislativo", alega Fonteles. "Aliás, fomos nós que fizemos a Constituição."
O relator da proposta na CCJ, Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS), destaca que a possibilidade em discussão não abrange julgamentos específicos dos tribunais, mas casos em que o Judiciário ultrapasse sua função ao determinar novas regras.
O coordenador da bancada evangélica, João Campos (PSDB-GO), diz que o objetivo é enfrentar o "ativismo judiciário". "Precisamos pôr um fim nesse governo de juízes. Isso já aconteceu na questão das algemas, da união estável de homossexuais, da fidelidade partidária, da definição dos números de vereadores e agora no aborto de anencéfalos."
Montesquieu. O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), entende que a proposta viola a harmonia entre os Poderes. "Montesquieu deve estar se agitando na tumba", brincou, em referência ao teórico da separação dos poderes. Alencar avalia que a proposta pode prosperar, por causa do desejo da Casa de reagir a algumas posições do Judiciário. "Essa proposta é tão irracional e ilógica quanto popular e desejada aqui dentro. Vai virar discurso de valorização do Legislativo."
Apesar da aprovação por unanimidade na CCJ, o caminho para transformar a proposta em marco legal é longo. Depois da comissão especial, o texto precisa ser aprovado no plenário da Câmara em dois turnos, por 308 deputados. Depois, a proposta seguirá para o Senado.

Consumo abusivo de bebida alcoólica aumenta com a escolaridade


Consumo abusivo de bebida alcoólica aumenta com a escolaridade

Taxa é de 20,1% entre pessoas com mais de 12 anos de estudo e 15,9% entre os que estudaram até oito anos

Segunda, 10 de Abril de 2012, 17h53
Agência Brasil
 Levantamento divulgado nesta terça-feira, 10, pelo Ministério da Saúde mostra que o consumo abusivo de bebida alcoólica (ingestão em uma mesma ocasião de quatro ou cinco doses para mulheres e de cinco ou mais doses para homens) é maior entre pessoas com mais de 12 anos de estudo do que entre os que estudaram até oito anos - 20,1% e 15,9%, respectivamente.

A pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) aponta que, na população feminina, o índice de consumo abusivo varia de 11,9% entre as mulheres que frequentaram a escola durante 12 anos ou mais anos a 7,6% entre as que têm até oito anos de estudo.

De acordo com a pasta, ao considerar a população em geral, sem distinção de sexo, a frequência no consumo de bebidas alcoólicas é 17% e não sofreu variação desde a primeira edição do estudo, em 2006. A proporção entre os homens, em 2011, é quase três vezes maior do que entre as mulheres - 26,2% e 9,1%.

Em relação à idade, a frequência de consumo abusivo de bebida alcoólica é maior entre os jovens de 18 a 24 anos (20,5%). Na população com idade igual ou superior a 65 anos, o índice cai para 4,3%. O percentual de consumo entre homens com idade de 18 a 24 anos chega a 30,3% e entre as mulheres na mesma faixa etária, a 11,5%.

Por ironia, futuro de Demóstenes está nas mãos de autoridades que senador criticou com acidez


O destino de Demóstenes Torres revelou-se caprichoso. Quando ainda posava de nadador, notabilizou-se pela crítica destemida. Agora que se sabe que nasceu para afogado, o ex-Demóstenes encontra-se submetido às decisões de dois alvos de sua insolência: Roberto Gurgel, chamado por ele de “covarde”, e Ricardo Lewandowski, comparado a uma balilarina do grupo É o Tchan.
Em junho do ano passado, Demóstenes assinou com outros senadores de oposição representação contra Antonio Palocci, o ex-chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff. Endereçada ao procurador-geral da República Roberto Gurgel, a peça pedia a abertura de inquérito para apurar o enriquecimento de Palocci como consultor.
Gurgel mandou a petição ao arquivo. Entrevistei Demóstenes. Abespinhado, o senador disse que o chefe do Ministério Público Federal “se acovardou”. Acusou-o de usar “os mesmos argumentos do Palocci para, praticamente, absolver o ministro.” Pegou pesado: “É como se o Palocci tivesse escrito a decisão para ele.”
Nessa época, o mandato de Gurgel na Procuradoria estava na bica de expirar. Ele dependia de uma decisão de Dilma para ser reconduzido ao cargo. Demóstenes bateu abaixo da linha da cintura. Língua crispada, disse que o procurador-geral livrara Palocci da grelha de olho na recondução.
“Isso ficou, na minha opinião, evidente. É uma pena. Muitas vezes, é mais honroso perder um cargo pela coragem do que ser reconduzido por uma aparente conivência. O procurador-geral, na minha opinião, se acovardou”. Àquela altura, a voz do senador já soava nos grampos que fariam dele um ex-Demóstenes.
Sem suspeitar que a gaveta de Gurgel guardava desde 2009 um inquérito da Polícia Federal apinhado de diálogos vadios travados com o amigo Carlinhos Cachoeira, Demóstenes rememorou na entrevista passagens dignificantes de sua biografia.
“Em 1988, eu era um jovem promotor. Pegava ônibus em Arraias [ex-município de Goiás, hoje incorporado ao Tocantins] e vinha a Brasília para defender a autonomia do Ministério Público. Vinha brigar na Constituinte para que o Ministério Público conquistasse sua autonomia.”
Prosseguiu: “Conquistamos o que tanto queríamos. E agora o Ministério Público continua se comportando como se fosse um órgão do governo! Fico me questionando se valeu a pena toda a luta que tivemos. A decisão do procurador-geral foi muito arriscada para a estabilidade política e para a própria democracia.”
Demóstenes esmiuçou o raciocínio: “Ao agir como instituição de governo, o Ministério Público compromete a sobriedade que se espera dele. Submete-se a juízos políticos. Os indícios existem e a investigação [contra Palocci] não foi aberta.”
Acrescentou, em timbre premonitório: “Amanhã, o que o procurador-geral não viu hoje no caso do Palocci, ele pode enxergar numa representação contra um senador ou um deputado de oposição acusado de enriquecimento ilícito. Essas coisas não podem ser subjetivas.”
O destino, essa fração de segundo em que o sinal muda de verde para amarelo e o sujeito decide se para ou avança, já havia piscado para Demóstenes. Enquanto o senador vergastava o procurador-geral, a Polícia Federal o escutava em novos grampos, dessa vez na Operação Monte Carlo.
Os diálogos com Cachoeira não deixavam dúvida. Demóstenes convertera-se em ex-Demóstenes. O crítico de Gurgel decidira avançar o sinal vermelho. Submetido ao novo inquérito, o procurador-geral juntou-o ao primeiro, misturou as conversas de 2009 às de 2011 e representou contra o senador no STF.
Por mal dos pecados, a petição de Gurgel desceu à mesa do ministro Ricardo Lewandowski. Logo ele, outro alvo da língua viperina de Demóstenes. O desafeto do senador apalpou a peça na tarde da última quarta-feira (28). Menos de 24 horas depois, já havia determinado a abertura de investigação, ordenando ao Banco Central que quebrasse o sigilo bancário do ex-Demóstenes.
Seis meses antes, em setembro de 2011, Demóstenes indignara-se com o comportamento de Lewandowski na presidência da sessão de julgamento do pedido de registro do PSD de Gilberto Kassab, no TSE. Desertor do DEM, Kassab prevalecia sobre a tentativa de sua ex-legenda de bloquear a criação do novo partido.
Encerrada a sessão, entrevistei Demóstenes. Ele soou, de novo, implacável. Evocando o passado de advogado sindical de Lewandowski, o senador levantou dúvidas quanto à isenção do magistrado: “Foi a primeira vez que eu vi um ministro de tribunal voltar aos tempos de advogado para defender abertamente a criação de um partido.”
Demóstenes foi à jugular: “O Lewandowski fez lembrar seus tempos de advogado de sindicato. Ele pode cobrar honorários do Kassab.” Depois, o senador fez troça. Criou uma analogia para facilitar o entendimento do modo como vira a sessão do TSE. Enxergara no plenário uma apresentação do antigo grupo musical ‘É o Tchan’, aquele conjunto de axé em que a bailarina loira rivalizava com a dançarina morena.
Viu em Lewandowski uma das bailarinas. Enxergou no ministro Marco Aurélio Mello a outra dançarina. “Todo mundo que assitiu pela TV Justiça teve a oportunidade de ver o Lewandowski dançando na boquinha da garrafa e o Marco Aurélio se esforçando para segurar o Tchan.”
Referia-se ao debate que opôs Lewandowski a Marco Aurélio. O primeiro tentando apressar o registro do PSD. O outro defendendo o respeito ao rito processual do TSE. Agora, na pele de relator do processo contra o ex-Demóstenes, Lewandowski dança ao ritmo do toque de caixa.
Além de mostrar a Demóstenes que quem nasceu para afogar-se na amizade com Cachoeira não merece chegar a nadador, o destino acomodou o senador no mesmo barco de Gurgel e Lewandowski. Mas só o ex-Demóstenes está na água.

FHC: no Brasil, políticos migram do clientelismo tradicional para prática mais grave: ‘negocismo’




Como faz todo primeiro domingo do mês, Fernando Henrique Cardoso levou às páginas deste 1de abril um artigo. Sob o título ‘Crime sem Castigo’, o texto trata de um assunto que não desgruda das manchetes: a corrupção.
artigo começa na saúva: “Houve tempo em que se dizia que ou o Brasil acabava com a saúva ou a saúva acabaria com o Brasil. As saúvas andam por aí, não acabaram, e nem o Brasil acabou. Será a mesma coisa com a corrupção?”
Passa por Demóstenes Torres: “Ouvem-se vozes, cada vez mais numerosas, na mídia, no Congresso e mesmo no governo, a clamar contra a corrupção. E o que é mais entristecedor, algumas delas por puro farisaísmo, como ainda agora, em clamoroso caso que afeta o Senado e sabe Deus que outros ramos do poder.”
E termina no colo de todo mundo: “Não nos devemos esquecer de que a responsabilidade não é só dos que transgridem e da pouca repressão, mas da própria sociedade, isto é, de todos nós, por aceitar o inaceitável e reagir pouco diante dos escândalos.”
Em essência, FHC sustenta a tese segundo a qual a perversão dos políticos brasileiros aperfeiçoa-se. O tradicional clientelismo e o velho patrimonialismo vão sendo gradativamente substituídos pelo “negocismo”.
“Com o desenvolvimento acelerado do capitalismo e com a presença abrangente dos governos na vida econômica nacional, as oportunidades de negócios entremeados por decisões dependentes do poder público se ampliaram consideravelmente”, anota FHC.
“E as pressões políticas se deslocaram do mero favoritismo para o ‘negocismo’. […] Crescentemente, os apoios políticos passam a depender do atendimento do apetite voraz de setores partidários que só se dispõem a ‘colaborar’ se devidamente azeitados pelo controle de partes do governo que permitam decisões sobre obras e contratos.”
Para FHC, “mudou o tipo de corrupção predominante e o papel dela na engrenagem do poder.” Pessimista, prevê: “Dia chegará – se não houver reação – em que a corrupção passará a ser condição de governabilidade, como acontece nos chamados narco-Estados.”
O que fazer? FHC receitou o óbvio: “Não há outro meio para restabelecer a saúde pública senão a exemplaridade dos líderes maiores, condenando os desvios e não participando deles, o aperfeiçoamento dos sistemas de controle do gasto público e a ação enérgica da Justiça.”
Lamentou: “Não faltam conhecidos corruptos a serem brindados em festas elegantes e terem quem os ouça como se impolutos fossem. As mudanças culturais são lentas e dependem de pregação, pedagogia e exemplaridade. Será pedir muito?”
Não, não. Absolutamente. Não é pedir muito. O que espanta é que, presidente por oito anos, FHC tenha feito tão pouco pela restauração dos costumes. Numa ponta, rendia-se ao toma lá dá cá. Noutra, conduzia e reconduzia à chefia da Procuradoria-Geral da República um procurador capaz de tudo, menos de procurar: Geraldo Brideiro, el engavetador.

‘Ninguém associa ciência com soberania nacional’


‘Ninguém associa ciência com soberania nacional’

Por Alexandre Matias
O neurocientista Miguel Nicolelis fala com exclusividade ao Link sobre a próxima etapa de seu projeto para transformar a criação de um exoesqueleto robótico em um programa de educação e saúde para estimular o desenvolvimento tecnológico e científico do País
FOTO: ANDRE LESSA/AE
SÃO PAULO – “A renúncia a um investimento maciço de formação de um corpo de cientistas e de atuação em diferentes áreas – tecnologia de informação, microengenharia, biomedicina, nanotecnologia, engenharia biomédica… – é uma renúncia à soberania do País.”
Miguel Nicolelis, um dos cientistas mais importantes do Brasil, é enfático sem se exaltar. Mesmo quando fala do Palmeiras – uma de suas paixões, que havia perdido de virada para o arquirrival Corinthians no dia anterior à entrevista, realizada no bairro de Higienópolis há uma semana –, ele mantém a calma e a clareza características de quando expõe suas ideias. Até quando reclama de como seu time achou que o jogo estivesse ganho no intervalo do clássico.
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Futebol à parte, a conversa foi sobre outras duas paixões: ciência e educação. E ele conta, com exclusividade ao Link, mais um passo de seu projeto Câmpus do Cérebro – o início de uma parceria entre o Hospital Sabará, de São Paulo. “Com a abertura da Escola do Câmpus do Cérebro, no ano que vem, vamos poder fechar o ciclo completo, unindo o Centro de Saúde Anita Garibaldi à escola”, explica.
Ele se refere ao trabalho que iniciou há seis anos no Rio Grande do Norte, que começa pelo tratamento de mulheres grávidas no Centro de Saúde (e que reduziu a mortalidade materna da região de Natal e Macaíba a zero) para garantir que os futuros alunos de sua escola possam ser acompanhados desde antes do nascimento. “As crianças que nascem lá já são alunas da escola no pré-natal. Depois elas entram no berçário e seguem estudando em período integral até o ensino médio”, diz.
José Luiz Setúbal, presidente da Fundação Hospital Sabará e responsável pela aproximação do hospital a Nicolelis, explica que a parceria começa com a troca de experiências em saúde materna e de recém-nascidos, mas Nicolelis frisa que não deve parar por aí. “Estamos discutindo a possibilidade de evoluirmos a relação para uma parceria clínica.” O que, na prática, significaria que o hospital paulistano é candidato a ser o primeiro lugar em que o projeto dos sonhos de Nicolelis, o Walk Again, possa ser testado em humanos.
Andar de novo. Walk Again é o projeto de criar um exoesqueleto robótico controlado pelo cérebro. O grande sonho de Nicolelis é fazer um tetraplégico dar o pontapé inicial no primeiro jogo da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, como disse em entrevista ao Link no ano passado. “Testamos um protótipo nesta semana que são pernas mecânicas. Vestimos um macaco e elas se mexeram, não com o pensamento, mas com um programa de computador”, explica. “O próximo passo é anestesiar a medula espinhal do macaco, para, finalmente, testarmos se a veste consegue fazer movimentos. Faremos isso até o meio do ano. E, mais ou menos no ano que vem, nesta época, já estaremos trabalhando com pacientes em potencial. Mas isso ainda está em fase de discussão.”
Mas o Walk Again não é um fim em si mesmo. Nicolelis o compara ao programa espacial norte-americano, que estabeleceu a meta de levar o homem à Lua, mas que, no processo, alavancou outras tecnologias que surgiram durante a pesquisa. “Há várias aplicações que surgem desta meta, que chamamos de ‘spinoffs’. Até mesmo para entretenimento, como o videogame. Quando os executivos da indústria de games veem um macaquinho imerso num mundo virtual jogando videogame com a mente, eles veem o futuro.”
E antecipa, sem entregar: “Eu não posso contar agora, mas estamos perto de divulgar três novas ideias que ninguém nunca tinha tido – e que não tínhamos a menor ideia que iriam acontecer. As grandes descobertas são acidentes. Na hora em que a gente estava fazendo um experimento com macacos, vimos isso e pensamos ‘não é possível’… Essas novas ideias são tão fora do esquadro que quando a gente publicar as pessoas vão achar que estão num filme de ficção científica.”
Mas Nicolelis quer menos ficção e mais ciência. E reforça a importância do Walk Again em seu projeto científico-educacional. “O Walk Again é a semente de uma nova indústria no Brasil, a da tecnologia de reabilitação. Gostaríamos de usar o Walk Again como projeto-âncora para lançá-la aqui no Brasil com a construção da infraestrutura do parque neurotecnológico do Câmpus do Cérebro”, diz.
O projeto visa criar uma geração de cientistas no Brasil para tratar futuros alunos no pré-natal e ensinar ciência, na prática, numa escola de período integral. “Nossa abordagem de ensino de ciência é prática. As crianças aprendem a lei de Ohm descobrindo como funciona um chuveiro. E contratamos nossos ex-alunos para trabalhar conosco. Na prática, estamos pegando crianças que nunca tiveram contato com ciência, colocando-as em um programa de educação e em cinco anos elas estão trabalhando em um laboratório de ponta. E são crianças que, até os 10 anos, não tiveram oportunidades. Imagina quando pegarmos as crianças que tiveram um pré-natal ótimo…”
Isso tudo é para reverter o quadro científico brasileiro. “Nossa situação é dramática. O déficit de engenheiros que o Brasil tem é gigantesco. E esse é um assunto estratégico. A indústria deste século, sem dúvida, é a do conhecimento e estamos em grande desvantagem. Se não acordarmos agora, não precisamos mais acordar. A janela de oportunidade está se fechando – e rápido.”
Contudo, o neurocientista é otimista. “As coisas estão mudando. Esta nossa conversa seria impossível há dez anos. O governo federal está ouvindo. Presido uma comissão – a Comissão do Futuro – que está preparando um relatório para mostrar todos os indicadores internacionais sobre a verdadeira situação do ensino de ciência e da produção científica brasileira. O relatório deve ficar pronto em junho.”
E conclui: “Meu intuito diz respeito à criação de uma nova geração de brasileiros. Produzindo não apenas cidadãos – muito mais felizes, engajados, competentes – mas também engenheiros, médicos, cientistas, professores… Pessoas que têm outra visão de mundo. E de Brasil.”

Com menos impostos, Brasil poderia receber até 15% mais investimentos


LUCIANA COBUCCI
Direto de Brasília
Projetos e obras realizados no Brasil poderiam receber mais investimentos se a carga tributária fosse menor no País, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). O presidente da entidade, João Eloi Olenike, afirma que a carga tributária brasileira equivale a 35% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas no País. A cada 5 pontos percentuais de queda no peso da tributação, Olenike estima que o Brasil poderia atrair entre 10% e 15% a mais em investimentos.
Olenike explica que a alta carga de impostos não-recuperáveis afasta os investimentos, principalmente vindos do exterior. "Especialmente porque o Brasil vai receber dois grandes eventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíada) e certamente virão investidores que podem ficar desanimados em investir aqui já que a tributação muito alta inibe os ganhos de qualquer empresa. Os investidores de foram veem a alta carga tributária e sabem que o governo vai ficar com grande parte dos ganhos que eles tiverem", afirmou.
A alta carga tributária é um dos principais componentes do chamado Custo Brasil, que é o índice que mede os gastos extras que a burocracia, corrupção e a cobrança de impostos impõem a investimentos no País. Para Olenike, os tributos que mais oneram investimentos são os incidentes sobre a folha de pagamento e consumo, como PIS, Cofins, Imposto sobre Comercialização de Mercadorias e Serviços (ICMS) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
Para o presidente do IBPT, inclusive, as medidas de desoneração da indústria que serão anunciadas pelo governo não devem afetar positivamente os preços dos produtos nacionais a ponto de deixá-los mais competitivos. Isso porque o governo deve desonerar a contribuição sobre a folha de pagamento para tributar o faturamento, o que, na opinião de Olenike, não é eficaz.
"Isso não é desoneração fiscal, é transferência de base de cálculo da folha para uma base mais prejudicial que é faturamento. Em qualquer uma das duas (que incidir o faturamento) o empresário vai passar para o produto, que vai inibir o consumo. Sou totalmente contra a tributação sobre o faturamento. Temos que faturar quando existir resultado positivo apurado pela empresa, deixa ela produzir primeiro para depois tributar", afirmou.

Senado aprova novo regime previdenciário dos servidores públicos federais


Política
28/03/2012 - 18h50 / Atualizada 28/03/2012 - 20h24

Senado aprova novo regime previdenciário dos servidores públicos federais

Do UOL, em São Paulo
Senadores aprovaram em plenário o novo modelo de previdência do servidor público federal, o Funpresp. O projeto de lei da Câmara regulamenta a previdência complementar dos servidores públicos civis federais e limita suas aposentadorias ao teto do Regime Geral da Previdência Social, que é de R$ 3.916,20. A aprovação do projeto é vista como fundamental pelo governo para reduzir o déficit na Previdência Social.
A proposta havia sido aprovada ainda na manhã desta quarta-feira (28) na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Agora segue para sanção presidencial de Dilma Rousseff.

O novo regime previdenciário será optativo para os atuais servidores públicos e obrigatório para os que ingressarem no serviço público após o novo regime entrar em vigor. Para garantir um valor equivalente ao salário que tem na ativa, a aposentadoria do servidor será complementada pela fundação de previdência complementar relativa ao poder para o qual trabalha.

Para isso, além de contribuir com 11% do teto do regime geral da Previdência Social para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), ele também deverá contribuir com mais 8,5% para o fundo complementar. O órgão onde o servidor trabalha também contribuirá com 8,5% para a previdência complementar. O modelo complementar é optativo e o servidor poderá escolher não contribuir e se aposentar recebendo apenas os vencimentos pagos pelo INSS.

A manutenção da Funpresp será garantida pela contribuição paritária dos servidores públicos federais e da União, ou seja, cada um entra com 50% dos recursos captados. Cada funcionário decidirá anualmente o percentual de seus vencimentos a ser descontado em folha. Os benefícios serão pagos em caráter vitalício, após 35 anos de contribuição para homens, 30 anos para mulheres, e segundo as regras vigentes para aposentadorias especiais.

A gestão da Funpresp deverá ser exercida por membros do conselho deliberativo, que será composto em número igual de servidores e representantes da União: seis membros indicados pelo Executivo, Legislativo e Judiciário, para mandatos de quatro anos. Os representantes de cada poder indicarão os quatro membros do conselho fiscal. Caberá aos conselheiros a indicação de dois dos quatro diretores executivos do fundo. Mais dois diretores deverão ser eleitos diretamente pelos participantes da fundação.

Para garantir o funcionamento da Funpresp, a União já garantiu aporte financeiro de R$ 100 milhões no Orçamento de 2012. Metade desses recursos será destinada à manutenção do fundo do Executivo e R$ 25 milhões para cada fundo do Legislativo e Judiciário. De acordo com a matéria aprovada, a Funpresp será fiscalizada pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), tal como os demais fundos de previdência complementar em funcionamento no país. A contratação de servidores efetivos para a fundação deverá ser feita por concurso público.
A adesão às três novas entidades fechadas de previdência privada a serem criadas, uma para cada Poder da República –Executivo, Legislativo e Judiciário– entretanto, será optativa. O texto foi aprovado no fim de fevereiro pela Câmara. (Com agências Senado e Brasil)

Vizinhos ágeis ofuscam crescimento do Brasil


ANÁLISE-Vizinhos ágeis ofuscam crescimento do Brasil

Segunda, 19 de Março de 2012, 17h15
TERRY WADE
O rápido crescimento de países latino-americanos como o Chile, a Colômbia e o Peru atraiu novamente o foco para o Brasil, peso-pesado da região, cuja economia relativamente fechada e que comporta altos impostos está caminhando abaixo de seu potencial.

Os três países andinos cresceram duas vezes mais rápido que o Brasil no ano passado e espera-se que superem novamente o país neste ano. O Brasil também ficou aquém de seus iguais no grupo BRIC, que agrupa as economias mais fortes dentre os mercados emergentes e inclui a China, a Índia e a Rússia.

Autoridades dos países andinos dizem ter se beneficiado de baixas cargas de dívida pública, superávits fiscais que lhes permitem aumentar investimentos, e uma busca agressiva de acordos de livre-comércio com grandes países que colocaram suas economias entre as mais abertas do mundo.

No Brasil, a política tem por vezes impedido reformas fiscais ambiciosas que seriam implementadas com o fim de eliminar o déficit no país, que abriga poderosos sindicatos do setor público.

Fortes grupos empresariais, ansiosos para proteger suas lucrativas posições no mercado doméstico de 200 milhões de pessoas têm resistido a acordos de livre comércio. Isso deixou os consumidores na mão: o iPhone 4S era vendido pelo preço de 1.250 dólares em uma loja em Brasília, em fevereiro. O produto é comercializado pela metade do preço na loja online Amazon.com.

"Há duas visões" sobre qual modelo econômico deve ser perseguido: uma economia aberta ou fechada, disse o ministro das Finanças colombiano Juan Carlos Echeverry neste fim de semana em uma reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento na capital do Uruguai, Montevidéu.

"A mensagem que enviamos aos nossos produtores é que eles têm uma posição no mercado mundial, não apenas na Colômbia. O futuro é sobre ser competitivo e isso dói tanto quanto um parto".

Os três países andinos cresceram entre 6 e 7 por cento no ano passado, bem acima dos 2,7 por cento do Brasil.

A economia do Brasil tem se expandido de forma constante na última década e cresceu 7,5 por cento em 2010, levando alguns economistas a dizer que o país finalmente havia abandonado sua história de crescimento lento. Mas com o declínio acentuado do ano passado, essas preocupações estão de volta.

A maioria dos economistas agora diz que o Brasil vai crescer apenas cerca de 3,3 por cento este ano. O Peru espera crescer até 6 por cento e a Colômbia está tão confiante de sua expansão que seu banco central corajosamente tem aumentado as taxas de juros.

"Em economias abertas como o Peru, há menos distorções de mercado, ao contrário de economias que tendem a se fechar e criar novas barreiras artificiais", disse o ministro das Finanças peruano, Luis Miguel Castilla, em Montevidéu. "Isso também significa que a capacidade das empresas em economias abertas de adaptar-se em um contexto de concorrência internacional é muito maior".

Castilla disse que há um risco de que países pequenos que dependem de exportações de commodities sofram choques quando os preços caem, mas que eles também podem recuperar-se rapidamente.

Echeverry e Castela se recusaram a identificar explicitamente os desafios do Brasil, mas mencionaram o sucesso de seus esforços para simplificar impostos, reduzir tarifas e aumentar investimentos públicos.

O Brasil carece de um grande acordo de livre comércio, apesar de suas exportações terem subido na última década. Seu código fiscal bizantino absorve cerca de 34 por cento do produto interno bruto e obriga empresas a contratar exércitos de contabilistas.

A sua carga da dívida de 37 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), mesmo que esse número tenha caído mais de 50 por cento na última década, é custosa para as finanças por conta de taxas de juros que estão entre as mais altas do mundo e um déficit líquido no setor público que, historicamente, tem impedidos investimentos pelo setor privado.

Anos de deficiências deixaram gargalos de infraestrutura que contribuem para a inflação e que o governo está se apressando para eliminar antes que o Brasil sedie a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos dois anos depois.

Empresas brasileiras têm sido protegidas da concorrência há anos. Agora, o que o governo tem chamado de uma "guerra cambial" global deixou sua moeda, o real, próxima a sua máxima em todos os tempos e prejudicou a competitividade da indústria brasileira.

Economistas temem que 75 por cento das exportações do Brasil estejam ligadas a preços de commodities.

"Isso nos deixa vulneráveis. Precisamos diversificar as nossas exportações, fazer com que nossa indústria se torne mais competitiva ", disse Elcio Gomes Rocha, economista-chefe do estatal Banco do Brasil.

Ele disse que os investimentos de capital constituem apenas 19 por cento do PIB do Brasil e que o mínimo necessário para a economia é de cerca de 24 por cento. O Brasil também tem uma taxa relativamente baixa de poupança interna.

"Você cresce quando você economiza", disse o colombiano Echeverry. "Os países asiáticos continuam a crescer porque têm taxas de poupança de 30 ou 40 por cento e taxas de investimento de 40 a 45 por cento. Não é assim se você consome e não economiza".

O diretor de crédito regional da América Latina da agência de classificação de risco Moody's, Mauro Leos, disse que essa é uma preocupação de médio prazo para o Brasil.

"O Brasil é uma grande economia, é um BRIC. No entanto, é um dos poucos países no universo soberano onde você tem taxas de investimento inferiores a 20 por cento. Países que têm baixas taxas de investimento tendem a ser pobres, pequenos ou não ricos. É algo estranho".

"CRESCIMENTO RAZOÁVEL"

Embora o Brasil tenha tido enorme progresso na última década -reduzindo as taxas de pobreza e desemprego a níveis recordes- suas reformas nunca foram tão profundas quanto as do Chile e do Peru, onde governos autoritários de direita reduziram agressivamente as tarifas e reformularam as responsabilidades relativas a aposentadoria do setor público nos anos 1980 e 1990

Responsabilidades de previdência e pensões têm sido uma das principais causas do contínuo déficit do setor público do Brasil, que governantes reduziram a 2,4 por cento do PIB desde a volta à democracia em 1985, por meio de medidas fragmentárias.

Mas conversas sobre reformas fiscais radicais encontraram obstáculos de resistência política. O Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder, tem relações estreitas com os sindicatos do setor público, que tiveram importância instrumental em sua vitória da presidência em 2002.

A oposição à redução do Estado tornou-se um grito de guerra durante a campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, quando o partido se agarrou a um plano do conselheiro econômico do adversário Geraldo Alckmin para reduzir drasticamente gastos públicos em 10 por cento.

Os assessores de Lula disseram que o plano de Alckmin jogaria a economia em uma espiral.

Mas a ministra do Planejamento da presidente Dilma Rousseff, Miriam Belchior, diz que isso está mudando e que a política fiscal e monetária agora trabalham em conjunto para ajudar a reduzir a elevada taxa básica de juros, que contribuiu para uma sobrevalorização do real e que minou a competitividade das exportações brasileiras. A Selic, taxa básica de juros, está atualmente em 9,75 por cento, após uma série de cortes nos últimos seis meses.

"Agora é possível ter esta nova combinação entre política fiscal e monetária", disse. "Esta é a grande mudança."

Dilma congelou 55 bilhões de reais (32 bilhões de dólares) em gastos neste ano, principalmente nos custos administrativos e discricionários, preservando os gastos em investimentos públicos. Isso se segue a uma redução de 50 bilhões de reais no ano passado.

Belchior disse que o governo também enviou um projeto de lei ao Congresso que a longo prazo ajudaria a controlar os custos para a aposentadoria de trabalhadores do setor público, um obstáculo importante nas contas fiscais. O projeto foi aprovado na Câmara, mas não no Senado, e as relações entre o Congresso e o governo têm encontrado dificuldades.

A economia do Brasil cresceu a uma média anual de 3,8 por cento na última década, mas o Peru teve uma taxa média de 6,4 por cento.

O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, tentou reduzir as preocupações com o crescimento modesto do Brasil."O Brasil ainda tem uma taxa de crescimento razoável", disse. "O país tem as condições para crescer, mas encontra obstáculos".

Ele disse que a economia do Brasil não foi liderada apenas por exportações. "É muito importante que o mercado interno continue forte, e essa tem sido uma das razões do forte crescimento".

O governo de Dilma foi acusado de protecionismo por elaboradores de política econômica na reunião do IADB (sigla em inglês para Banco Interamericano de Desenvolvimento) por pressionar o México na semana passada a reduzir suas exportações de automóveis para o Brasil.

Pode-se argumentar que o Chile e o Peru -e, num menor grau, o México e a Colômbia- têm as políticas mais ambiciosas de livre-comércio do mundo.

Seus acordos de livre-comércio se estendem da China, Japão e Coréia do Sul aos Estados Unidos e Europa. Mais acordos com parceiros comerciais menores foram assinados ou estão em processo de análise com países como a Índia.

Ministros de comércio da União Europeia concordaram nesta sexta-feira em aprovar um acordo de livre comércio com a Colômbia e o Peru.

"Uma vez que a União Europeia ratifique o acordo, 90 por cento de nosso comércio será abrangido por algum tipo de acordo preferencial", disse o peruano Castilla."Eu acho isso uma vantagem que o nosso país tem em relação a nossos vizinhos".

Concurso do Senado tinha 50 questões iguais e na mesma ordem


Concurso do Senado tinha 50 questões iguais e na mesma ordem

Outros 30 testes do exame eram diferentes; remuneração inicial para o cargo é de quase R$ 24 mil

Segunda, 19 de Março de 2012, 18h45
Estadão.edu
Cinquenta das 80 questões das provas do concurso para consultor legislativo do Senado eram idênticas e vinham na mesma ordem, independentemente da cor do caderno de testes. A dinâmica do exame, aplicado no dia 11, só mudava a partir da pergunta 51, quando caía conteúdo específico de cada especialidade. Embora as perguntas iniciais fossem iguais, e o gabarito o mesmo, a FGV Projetos, responsável pela organização do processo seletivo, diz que garante a segurança do concurso.
O cargo de consultor legislativo reúne 23 funções de assessoramento. O candidato a consultor em agricultura, por exemplo, fez as mesmas 50 questões, na mesma ordem, que o "concurseiro" da área de minas e energia. A remuneração inicial do cargo é de quase R$ 24 mil. São oferecidas 9 vagas e o Senado formará cadastro de reserva.
Os testes iguais eram sobre língua portuguesa, conhecimentos gerais, direito constitucional e administrativo, administração e políticas públicas, raciocínio lógico e língua inglesa. Para ser aprovado, o candidato tinha de acertar pelo menos 23 questões dessa parte e outras 18 da parte de conhecimentos específicos.
Segundo a FGV, as provas eram quase iguais porque nenhuma especialidade recebeu mais de 5 mil inscritos. A Assessoria de Imprensa da fundação diz que não havia "necessidade" de mesclar as questões porque era "muito baixa" a chance de ter alguém fazendo a mesma prova, na mesma sala. O exame foi aplicado em mais de 5 mil locais em todo o País.
Ainda de acordo com a assessoria da FGV, por questão de segurança as provas tinham cores diferentes, o que também serviria para "confundir" os candidatos. Ao todo, 8.607 candidatos concorriam ao cargo de consultor legislativo.
Analista

As provas para analista de sistemas, analista de suporte de sistemas e enfermagem do concurso do Senado, canceladas após falta de material em Taguatinga (DF), já têm nova data: 15 de abril, das 15h às 20h30. Segundo a FGV, os candidatos serão comunicados individualmente da reaplicação das provas.
São 7 vagas para analista de sistemas, 3 para analista de suporte de sistemas e 5 para enfermagem, com salário de R$ 18.440,64.
Nesta segunda-feira, 19, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, comparou a falha no concurso do Senado aos problemas na aplicação do Enem. "O Enem é uma prova para 5 milhões de pessoas. Problemas acontecem mesmo quando uma instituição respeitada faz uma prova para 10 mil pessoas", disse, em São Paulo.
* Atualizada às 21h20

Produzir no País custa mais que nos EUA


Produzir no País custa mais que nos EUA

Além do câmbio, mão de obra ficou mais cara: em 5 anos, custo do trabalho na indústria aumentou 46% no Brasil e 3,6% nos Estados Unidos

Segunda, 17 de Março de 2012, 18h00
Raquel Landim, de O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Está mais barato produzir bens industriais nos Estados Unidos do que no Brasil. A afirmação parece um contrassenso, mas se tornou realidade. A crise provocou uma reviravolta na estrutura de custos das empresas, encarecendo uma nação emergente como o Brasil e tornando os EUA um país de baixo custo.
"As empresas relatam que hoje existem condições mais favoráveis para a produção industrial nos Estados Unidos do que no Brasil", conta Gabriel Rico, CEO da Câmara Americana de Comércio (Amcham-Brasil), que reúne as multinacionais americanas instaladas no País.
O câmbio é o principal vilão por causa do enfraquecimento do dólar, especialmente diante do real, mas não é o único. Levantamento da MB Associados, feito a pedido do Estado, aponta que despesas importantes, como energia e mão de obra, subiram muito mais no Brasil do que nos Estados Unidos.
Nos últimos cinco anos, o custo do trabalho em dólar na indústria aumentou 46% no Brasil e apenas 3,6% nos Estados Unidos. Segundo Aluizio Byrro, presidente do conselho da Nokia Siemens na América Latina, a mão de obra no Brasil está entre as mais caras do mundo. "Um gerente de nível médio chega a ganhar 20% menos nos EUA do que aqui."
No Brasil, os encargos trabalhistas são pesados e a variação cambial encareceu os salários em reais. Além disso, o crescimento da economia e a baixa escolaridade da população provocou uma forte escassez de mão de obra qualificada.
Nos Estados Unidos, trabalhadores não têm direitos como décimo terceiro salário ou licença-maternidade. Com a crise, as empresas ganharam poder de barganha e conseguiram até redução de salários.
"No setor automotivo americano, por exemplo, tudo foi repensado para salvar empresas que estavam à beira da falência", diz Marcelo Cioffi, sócio da consultoria PwC. "Já o Brasil é um dos países mais onerosos do mundo para produzir carros. Não só pelo câmbio, mas também pela falta de escala, excesso de impostos, mão de obra e matéria-prima mais caras."
De acordo com Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, além da logística ruim e da carga tributária, o setor industrial brasileiro sofreu com a inflação mais alta que nos EUA, o que encareceu os custos em geral.
"Nos EUA, a crise foi essencial para a tornar a indústria mais competitiva, porque provocou demissões em massa e reduziu os custos, aumentando a produtividade", diz Vale. Nos últimos cinco anos, a produtividade industrial americana avançou 9%, ante apenas 1,1% no Brasil.
Déficit. A balança comercial entre os dois países já reflete a mudança na competitividade. Em 2005, o Brasil tinha um superávit de US$ 9,9 bilhões com os americanos. No ano passado, esse resultado foi revertido em um déficit de US$ 8 bilhões. 

Escassez de água pode gerar conflitos no futuro, dizem especialistas


Escassez de água pode gerar conflitos no futuro, dizem especialistas

Aumento da demanda pode fazer com que 40% da população mundial fique sem acesso ao recurso.

Segunda, 17 de Março de 2012, 06h33
Daniela Fernandes
A escassez de água no futuro poderá aumentar os riscos de conflitos no mundo, afirmam especialistas que participam do Fórum Mundial da Água, em Marselha, na França.

Apesar da quantidade de água disponível ser constante, a demanda crescente em razão do aumento da população e da produção agrícola cria um cenário de incertezas e conflito, segundo os especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) diz que a demanda mundial de água aumentará 55% até 2050.

A previsão é que nesse ano, 2,3 bilhões de pessoas suplementares - mais de 40% da população mundial - não terão acesso à água se medidas não forem tomadas.

"O aumento da demanda torna a situação mais complicada. As dificuldades hoje são mais visíveis e há mais conflitos regionais", afirma Gérard Payen, consultor do secretário-geral da ONU e presidente da Aquafed, federação internacional dos operadores privados de água.

Ele diz que os conflitos normalmente ocorrem dentro de um mesmo país, já que a população tem necessidades diferentes em relação à utilização da água (para a agricultura ou o consumo, por exemplo) e isso gera disputas.

Problemas também são recorrentes entre países com rios transfronteiriços, que compartilham recursos hídricos, como ocorre entre o Egito e o Sudão ou ainda entre a Turquia e a Síria e o Iraque.

Brasil x Bolívia

O Brasil também está em conflito atualmente com a Bolívia em razão do projeto de construção de usinas hidrelétricas no rio Madeira, contestado pelo governo boliviano, que alega impactos ambientais.

Tanto no caso de disputas locais, que ocorrem em um mesmo país, ou internacionais, a única forma de solucionar os problemas "é a vontade política", segundo o consultor da ONU.

O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA) Vicente Andreu, que também participa do fórum em Marselha, acredita que hoje existe maior preocupação por parte dos governos em buscar soluções para as disputas.

"O problema dos rios transfronteiriços é discutido regularmente nos fóruns internacionais. Aposto na capacidade dos governos de antecipar os potenciais conflitos."

Durante o fórum, que termina neste sábado, o Brasil defendeu uma governança global para a água e a criação de um conselho de desenvolvimento sustentável onde a água seria um dos temas tratados de maneira específica.

"A água está sempre vinculada a algum outro setor, como meteorologia, agricultura ou energia. Achamos que ela tem de ter uma casa própria para discutir suas questões", diz Andreu.

Direito universal

Na declaração ministerial realizada no fórum em Marselha, aprovada por unanimidade, os ministros e chefes de delegações de 130 países se comprometeram a acelerar a aplicação do direito universal à água potável e ao saneamento básico, reconhecido pela ONU em 2010.

No fórum internacional da água realizado na Turquia em 2009, esse direito universal ainda era contestado por alguns países.

Os números divulgados por ocasião do fórum mundial em Marselha são alarmantes. Segundo estudos de diferentes organizações, 800 milhões de pessoas no mundo não têm acesso à água potável e 2,5 bilhões não têm saneamento básico.

Houve, no entanto alguns progressos: o objetivo de que 88% da população mundial tenha acesso à água potável em 2015, segundo a chamada meta do milênio, já foi alcançado e mesmo superado em 2010, atingindo 89% dos habitantes do planeta.

Mas Gérard Payen alerta que o avanço nos números globais ocultam uma situação ainda preocupante.

"Entre 3 bilhões e 4 bilhões de pessoas não têm acesso à água de maneira perene e elas utilizam todos os dias uma água de qualidade duvidosa. É mais da metade da população mundial", afirma.

Ele diz que pelo menos 1 bilhão de pessoas que têm acesso à água encanada só dispõem do serviço algumas horas por dia e que a água não é potável devido ao mau estado das redes de distribuição.

Segundo Payen, 11% da população mundial ainda compartilha água com animais em leitos de rios.

De acordo com a OMS, sete pessoas morrem por minuto no mundo por ingerir água insalubre e mais de 1 bilhão de pessoas ainda defecam ao ar livre. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Cidades brasileiras são ‘pouco competitivas’, diz consultoria britânica



Atualizado em  13 de março, 2012 - 06:57 (Brasília) 09:57 GMT






São Paulo, em foto de arquivo (AFP)





As cidades latino-americanas, incluindo as megaurbes brasileiras, Rio e São Paulo, são pouco competitivas comparativamente a outras cidades mundiais, indicou um relatório da consultoria britânica Economist Intelligence Unit.
Para a consultoria, o mau desempenho em um ranking de 120 cidades se dá pela falta de sustentabilidade e aspectos da qualidade de vida que podem ser obtidos mais facilmente em outras cidades mundiais, como as dos países desenvolvidos.

As cidades, que respondem por 29% da economia global, foram avaliadas a partir de oito categorias e analisadas em 31 indicadores individuais.

São Paulo e Rio foram classificadas, respectivamente, em 62º e 76º lugar no ranking, liderado por Nova York. E Buenos Aires, em 60º lugar, foi a única cidade latino-americana que terminou na primeira metade da lista.
"As cidades latino-americanas e africanas são as que mais deixam a desejar em termos de competitividade. Enquanto todas as regiões abrigam pelo menos algumas cidades pouco competitivas, a América Latina em particular tem mau desempenho em todas as categorias", afirma o relatório.
São Paulo e Rio ficaram empatadas em 47º lugar em termos de personalidade social e cultural – ranking no qual Zurique lidera, seguida por Sydney, Nova York, Los Angeles, Madri e Londres.
As duas cidades brasileiras também empataram em 50º lugar em maturidade financeira – lista encabeçada por Zurique, Toronto, Tóquio, Cingapura e Nova York.
Já no quesito apelo global São Paulo ficou em 38º, e o Rio, em 49º. As primeiras colocadas da lista foram Londres, Paris, Tóquio, Cingapura e Pequim.
Nenhuma das duas cidades brasileiras aparecem entre as 60 primeiras posições em capital humano, riscos ambientais e naturais, eficiência institucional, força econômica e capital físico.
Nova York, em foto de arquivo
Nova York liderou ranking
"Investimentos em infraestrutura serão a principal causa do crescimento dos mercados emergentes, mas será necessário mais que isso para garantir a sua atratividade para os talentos de amanhã", afirma o relatório.
Para a consultoria, as cidades emergentes devem promover seu desenvolvimento "não apenas em arranha-céus, conexões ferroviárias e outras obras de infraestrutura", mas também "nos aspectos mais brandos que serão cruciais para sua capacidade de atrair e desenvolver os talentos de amanhã – incluindo educação, qualidade de vida e liberdade pessoal, entre outras coisas".

Sustentabilidade

As cidades asiáticas foram destaque no relatório, devido ao seu bom desempenho no quesito de força econômica.
Das 20 cidades mais bem colocadas nesse aspecto, 15 estão na Ásia e, segundo o relatório, as 32 maiores cidades do continente devem crescer em média 5% ao ano daqui até 2016.
Entretanto, a consultoria frisou que não existe correlação entre tamanho e competitividade. Tanto que entre as dez cidades mais competitivas da lista estão tanto Tóquio, com 36,7 milhões de habitantes, como Zurique, com 1,2 milhão.
"Competitividade é um conceito holístico. Enquanto o peso econômico e o crescimento são importantes e necessários, diversos outros fatores determinam a competitividade de uma cidade no sentido mais abrangente", afirmou o relatório.
"O ambiente de negócios e as regulamentações, a qualidade do capital humano e a qualidade de vida em si não só ajudam uma cidade a sustentar um rápido ritmo de crescimento, mas também a criar um ambiente social e de negócios estável e harmônico."
A EIU estima que as cidades de tamanho mediano, com população entre 2 milhões e 5 milhões de habitantes, é que liderarão o crescimento urbano no mundo: em média, crescerão 8,7% anualmente nos próximos cinco anos.
Enquanto isso, das 23 megacidades do planeta – com mais de 10 milhões de pessoas –, apenas nove figuram entre as 30 cidades com maior crescimento econômico.

Atração de talentos

"Competitividade é um conceito holístico. Enquanto o peso econômico e o crescimento são importantes e necessários, diversos outros fatores determinam a competitividade de uma cidade no sentido mais abrangente"
Relatório da Economist Intelligence Unit
A cidade de Nova York foi considerada a primeira do ranking da EIU, seguida por Londres, Paris e Cingapura. Das 30 cidades mais bem colocadas na lista, 24 estão nos EUA ou na Europa.
Apesar do impacto da crise econômica, essas cidades continuam atraindo mais negócios, capital, talentos e turismo, notou o relatório.
"A vantagem mais significativa que as cidades dos países desenvolvidos têm é sua capacidade de atrair o melhor talento do mundo. As cidades americanas e europeias dominam a categoria do capital humano no índice", observou a pesquisa.
"Isso se deve principalmente à qualidade dos sistemas educacionais e à mentalidade empreendedora de seus cidadãos. Mas outros fatores melhoram seu desempenho também, como as atividades culturais e a qualidade de vida geralmente boa."