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quinta-feira, 9 de julho de 2009

FILOSOFANDO: DIÓGENES E O CINISMO COMO CRÍTICA. Ou será forma de governo???

DIÓGENES REVIVE

A ironia ética de Diógenes de Sinope é uma das mais profundas e acertadas do pensamento grego, mas o caráter peculiar de Diógenes foi por bom tempo desprezado, mormente por aqueles que se comprazem com hipocrisias e corruptelas.

Diógenes fez parte do movimento que ficou conhecido como ‘Cínico’. Fundado por Antístenes (444- 365 a.C.), o movimento cínico atingiu o seu apogeu, sem dúvida, por meio do filho de Sinope, que se valia de uma franqueza às vezes considerada torpe, ou insultuosa; pois, como se sabe, os cínicos, de modo geral, não raramente revelavam as chagas da sociedade, das instituições humanas, e, por isso, não raramente acabavam não sendo vistos com bons olhos.

Acerca da figura de Diógenes de Sinope, conta-se que este só tinha como sua propriedade duas coisas:

1º) um manto (para cobrir suas vergonhas); e

2º) uma sacola (onde guardava apenas um copo, todavia, ao ver em certa ocasião uma criança bebendo água em um rio usando apenas as mãos em concha, o filósofo acabou se livrando do utensílio).

Para Diógenes, poucas coisas são necessárias para se viver, e, vendo certa vez um rato subir à mesa, o filósofo complementou, assim, a sua simplicidade existencial: “Vede! Até Diógenes sustenta parasitas”. Não muito diferente de Diógenes, assim tem sido o povo brasileiro, que apesar de toda a miséria, continua a alimentar alguns parasitas (segundo a Fundação Getúlio Vargas - FGV, são 50 milhões de miseráveis no Brasil. Isso significa que 29% da população nacional vive apenas com R$ 80,00 por mês. (Fonte: http://www.fgv.br/ibre/cps/artigos/reportagens/2001/Os%20Tortuosos%20Caminhos%20da%20Miseria%20do%20Brasil.PDF), enquanto isso, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados brasileiro gastam aproximadamente R$ 11.545,04, por minuto. http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u307738.shtml).

Sensibilizado com a miséria do povo à época, afirma-se que Diógenes às vezes ficava no mercado em frente à estátua de César a pedir esmola. Alguns perguntavam, então, para Diógenes, o que ele estava fazendo, e o filósofo respondia: “Acostumando-me a pedir em vão”. Será que a postura de Diógenes neste ato tem haver com a situação dos desvalidos dessa terra brasilis?

Considerado louco por alguns, mendigo e depravado por outros, Diógenes distribuía sarcasmo para todos, até para aqueles considerados caridosos: “Se já deste algo a outro, dá-me também, se não, comece então por mim”.

Em sendo considerado verdadeiro pária, perguntaram ao filósofo certo dia, por que motivo alguns o chamava de “Diógenes o cão”, e este respondeu: “Porque balanço a cauda com alegria para aquele que me dá algo, ladro para os que me recusam e mordo os patifes”.

São muitas as histórias atribuídas ao pensador, mas sem dúvida, uma das mais ilustrativas para o momento atual, seja a que conta que Diógenes, certa vez, resolveu sair pelas ruas de Atenas com uma lanterna acesa em punho, em plena luz do dia, pronunciando a frase “procuro o homem”. Em verdade, afirma-se que o filósofo assim procedeu porque ele há tempos não conseguia enxergar em nenhum dos atenienses tal atributo. E no fim, Diógenes busca por toda Atenas, mas não encontra o que tanto procurava: o homem coerente, honesto, ético, virtuoso em todos os sentidos.

Igualmente a Diógenes estão os cidadãos brasileiros. Todos à procura do homem no congresso nacional, lamentavelmente, ele não está lá; e talvez não esteja em toda a sociedade, uma vez que quem está no congresso saiu do seio social, e cada um dos congressistas é todo o povo (local) representado.

O Estado, porém, é fruto de um dever ser; principalmente um Estado Democrático de Direito. Logo, as instituições não deveriam andar na contramão da ética.

Em tempos atuais, lamentavelmente, o congresso brasileiro vive a sua escatologia, com partidos políticos se dividindo para saquear o povo, e políticos presos a um corporativismo hediondo que apequena o homem e põe em escombros a instituição.

Diógenes revive.

Jairo de Oliveira.

Bacharel em Direito

Itamaraju, Bahia, 08.07.09.


Bibliografia

ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1993.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2000.

GOULET-CAZÉ, Marie-Odile; BRANHAM, R. B. Os Cínicos: o movimento cínico na antigüidade e o seu legado. São Paulo: Loyola, 2007.

2 comentários:

  1. Parabenizo-lhe pela"metáfora" entre o passado e presente,ponderação pertinente frente ao sujeito Diógenes,que muitos não conseguem ver,mas,este homem tão procurado e perseguido por todos, acredito, vive parte em você até que se contamine pelos males que afligem o mundo.

    Parabéns!


    Oswaldo

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