Após uma jovem ser baleada e um homem assassinado na rua Apinajés, em Perdizes, bairro de classe média alta de São Paulo, a polícia militar surgiu. As viaturas que, agora, olham qualquer movimento não vieram por geração espontânea, mas são decorrência da grita dos moradores – através da mídia – assustados com a percepção da violência às portas de casa. Em depoimento a jornalistas, o comandante do policiamento da região disse que já havia segurança, mas a presença das viaturas iria trazer a percepção de que tudo estava bem.
Na mesma época, uma mulher foi assaltada por um bando de motoqueiros no bairro do Campo Limpo, periferia da capital paulista. Derrubada ao chão, acabou espancada e teve seus pertences levados embora. Ficou internada no hospital. Os vizinhos dizem que este não foi o primeiro ataque de uma gangue como essa na região e, infelizmente, não será a última. Foi sorte que, dessa vez, a vítima sobreviveu.
Até aí, nada de novo. Sabemos que a presença do Estado na vida de uma comunidade é diretamente proporcional ao seu poder econômico e, consequentemente, sua capacidade de mobilização. Seria de se esperar, portanto, uma resposta rápida no primeiro caso, mesmo que cosmética e temporária, e um deixa-pra-lá-a-vida-é-assim-levanta-e-não-reclama no segundo. Cidadania de verdade só para quem é fino.
Contudo, a situação agora é um pouco diferente. O crescimento pela qual as classes C e D vêm passando aumentou a renda na periferia. Os mais pobres ganharam poder de compra, ou seja, estão adquirindo bens de consumo, carros, motos, roupas. Ao mesmo tempo, o policiamento se faz mais presente em áreas ricas do que em áreas pobres, espalhando determinados tipos de crimes para as bordas da capital.
Como o Estado deveria agir para garantir segurança a essas áreas? O mais óbvio seria se fazer presente através de policiamento. Mas isso é secundário frente ao desafio de se fazer realmente presente, através de instituições que efetivem a cidadania em toda a cidade (educação, saúde, lazer, enfim, aquilo que todo mundo quer e poucos têm).
Pobreza não gera violência, mas exclusão social e desigualdade crônica (daquelas que funcionam como um tabefe bem dado no meio do rosto), como a que temos nas nossas grandes cidades, sim. Violência essa que está atingindo aqueles que, até pouco tempo, não tinham muita coisa, mas que já se diferenciam daqueles que não têm nada. Significa que os que nada têm, aquela “horda de bárbaros” que insistimos em jogar para fora, está atacando? Não, significa que continuamos falhando como sociedade.
Um jovem que entra em um grupo criminoso pensa antes de fazer isso e toma a decisão por falta de opções. Mais do que uma escolha pelo crime, é uma escolha pelo emprego e pelo reconhecimento social. Um trabalho ilegal, violento e de extremo risco, mas em que o dinheiro entra de forma rápida. Dessa forma, pode ajudar a família, melhorar de vida, dar vazão às suas aspirações de consumo em país cada vez mais consumista – pois não são apenas os jovens de classe média alta que querem o tênis novo que saiu na TV. Ganhar respeito de um grupo, se impor contra a violência da polícia. E uma vez dentro desse sistema, terá que agir sob suas normas. Matando e morrendo, em uma batalha que para cada baixa, fica uma família, de um lado e de outro.
O que mostra que não adianta muito o Brasil crescer para uma parte e deixar uma outra do lado de fora. Está cada vez mais claro que ninguém conseguirá desfrutar de tranquilidade enquanto não houver igualdade de condições. Ou o país é de todos, ou não será de ninguém.
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