Sair da
“crise”
08.10.2012 –
Adriano Benayon *
O jornal Valor
publicou, em setembro, artigos de dez “renomados” economistas sobre a “crise”
mundial e seus desdobramentos. Na realidade, trata-se de depressão
econômica, caracterizada por queda, desde 2008, de emprego, produção,
consumo e investimentos, em quase todos os países “desenvolvidos”.
2. Pior que
esconder a depressão nas estatísticas oficiais é não apontar-lhe a causa
essencial: a concentração dos meios de produção e das finanças sob o
comando de um grupo de pessoas contáveis nos dedos, coadjuvadas por executivos
cujo total não passa de 0,001% da população (mil vezes menos que o falado 1%).
3. A concentração
determina as causas imediatas do colapso e da depressão:
a)
desregulamentação (falta de controles públicos e supressão dos que havia) dos
mercados financeiros, deixados ao bel prazer dos alavancadores dos títulos
podres, como derivativos de 600 trilhões de dólares (nessa moeda e em
euros);
b) os bancos e
financeiras, manipuladores e aproveitadores da criação de títulos, não arcarem
com os ônus dos estragos que produziram, postos nos ombros dos Estados, que
viraram devedores de créditos de que não se beneficiaram.
4. Ainda mais
importante que entender as causas é atentar para o fato de a depressão
continuar, porque isso interessa à oligarquia financeira, detentora do real
governo nas “democracias” ocidentais.
5. De fato, a
depressão serve para tornar ainda maior a concentração do capital, e mais
absoluto o poder oligárquico. Serve como? Enfraquecendo ainda mais os
Estados nacionais, dos quais a oligarquia se havia
apoderado.
6. Com o Estado
subordinado aos oligarcas, quem irá conter os abusos tirânicos e quem propiciará
algum espaço à verdadeira economia de mercado, capaz de viabilizar o
desenvolvimento tecnológico através da competição e da demanda em economias
livres da concentração?
7. Depois do
colapso financeiro originado nos derivativos, em vez de se liquidarem os bancos
metidos neles - como de direito, se as sociedades tivessem governos a seu
serviço - os colossais prejuízos decorrentes da especulação foram transferidos
para os Estados, que passaram a ser os grandes endividados.
8. A partir das
dívidas públicas assim engendradas, as políticas sob o comando dos bancos levam
à falsa austeridade e às privatizações favorecedoras dos cartéis dos oligarcas.
Através delas desaparecem não só estatais, mas também grande massa de empresas
médias e pequenas.
9. No setor
“privado” reinam os grandes bancos e os cartéis transnacionais, cada vez mais
abrangentes. Fecham-se as portas do capitalismo a ingressantes da classe média
alta. A oligarquia consolida seu status de tirania.
10. Diferentemente
do que muitos dizem, a crise econômica atual não provém somente do
liberalismo, mas, sim, de o mundo estar dirigido e regulado pelos
concentradores. Só os oligarcas ficam livres da regulamentação.
11. A depressão nos
EUA, Europa e Japão leva à queda das exportações da China, a qual pretende
acelerar a expansão do mercado interno e reduzir o ritmo de crescimento dos
investimentos em favor da elevação do consumo.
12. Assim, a função
de locomotiva do dinamismo mundial, desempenhada ultimamente pela China, não
deverá prosseguir na mesma intensidade, prevendo-se queda nas importações de
minérios e, portanto, das exportações do Brasil e da Austrália.
13. Em conclusão,
nada se vê no horizonte, capaz de interromper o presente círculo vicioso, na
maioria dos países, de deterioração das condições sociais e da infra-estrutura
econômica.
14. EUA e Europa
prosseguem emitindo moeda para comprar títulos podres, o que reduz quedas no
valor dos ativos financeiros e das commodities. Mas isso só adia nova recaída,
enquanto avilta, ainda mais, o dólar e o euro, moedas que não mais deveriam ser
aceitas como divisas internacionais.
15. Muitos
recordam que a grande depressão mundial dos anos 30 somente acabou devido ao
choque de procura da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942/43.
16. Mas então, só
nos EUA, foram mobilizadas 14 milhões de pessoas, e agora, os conflitos armados
não mais geram mais tantos empregos, nem mesmo nas indústrias de armamentos e
nas básicas. Só matam aos milhões, com armas intensivas de
tecnologia.
17. As agressões a
diversos países desde 2001, as quais contribuíram para elevadíssimos déficits
orçamentários, visam elevar os lucros da indústria bélica, um dos grandes
feudos da oligarquia, ademais dos objetivos imperiais.
18. A guerra em
grande escala seria muito mais dispendiosa e tornou-se menos provável, porque
surge uma superpotência, a China, além de ocorrer alguma recuperação do poder
bélico da Rússia, ex-superpotência que propiciou o equilíbrio desaparecido no
final dos anos 80.
19. Por fim, não há
necessidade de novas guerras monstruosas, além de inúteis para sair da “crise”.
A saída não é difícil, se se puser cobro à tirania política da oligarquia
financeira.
20. Bastaria os
Estados assumirem o controle de seus Tesouros e dos bancos centrais,
extinguirem o grosso das dívidas que inviabilizam a sanidade das
economias e promoverem investimentos produtivos estatais e privados no âmbito
de uma economia descartelizada.
21. Fora disso,
i.e., sem transformação das relações de poder, o cenário é mais depressão, e
a dificuldade para essa transformação decorre da deterioração, em todos
os aspectos, da vida dos povos subjugados pelo império.
22. Com efeito, a
tirania conta, para afastar a revolução, com os frutos de investimentos, desde
há um século, nas indústrias da comunicação social e do entretenimento e nos
sistemas de “educação”, para destruir valores e culturas e embotar o
discernimento, tudo isso potencializado por mais tecnologia.
23. A destruição
das Torres Gêmeas em Nova York e o ataque ao Pentágono, realizados pelo Estado
policial, há onze anos, são exemplos notáveis da produção de terror para
justificar agressões imperiais e reforçar leis repressoras
totalitárias.
24. É em cima
dessas realidades, desconhecidas da maioria, que se monta nos EUA o
mega-espetáculo das eleições presidenciais.
25. A eleição para
presidente da maior superpotência mundial deveria ser evento de capital
importância, merecedor da cobertura que tem, se houvesse real opção para os
eleitores.
26. Trata-se,
porém, de algo irrelevante, já que, como de hábito, os candidatos dos dois
partidos estão igualmente vinculados à oligarquia concentradora, sediada em Wall
Street, Londres e outras praças-chave da finança mundial.
*
- Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus
Desenvolvimento.
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