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domingo, 29 de novembro de 2009

EXPERIÊNCIA DE VIDA

TOSTÃO

Sabedoria dos ignorantes

Explicações, mesmo com ótimos argumentos, são, geralmente, insuficientes para entender o essencial


TENHO EM minha casa uma coleção de miniaturas de pessoas que admiro. São meus ídolos. Um deles é João Ubaldo Ribeiro. Por isso e por estar, nesses dias, me deliciando com seu novo romance, "O Albatroz Azul", transcrevo algumas de suas palavras.
"Os que têm estudo explicam a claridade e a treva, dão aulas sobre os astros e o firmamento, mas nada compreendem do Universo e da existência, pois bem distinto do explicar é o compreender e quase sempre os dois caminham separados."
Tive na vida várias fases de tentar explicar tudo, mesmo sem compreender. Quando compreendia, não tinha palavras para explicar.
Quando era atleta, só entendia alguns lances após as partidas. Fazia, sem saber e sem compreender.
Quando me formei em medicina, achava que sabia e que podia explicar tudo o que ocorria com os pacientes. Tinha a "sabedoria dos ignorantes". Com o tempo, percebi que, quanto mais estudava e trabalhava, menos sabia.
Como comentarista, tive também a fase, principalmente na televisão, por ser visto, mais exposto e mais analisado, de achar que podia entender e explicar tudo o que acontecia em um jogo.
O futebol tem dezenas de possibilidades, conhecidas e desconhecidas. O futebol é complexo. Nós é que tentamos simplificá-lo com nossas racionalizações.
Mesmo assim, as explicações, com bons argumentos, são necessárias, embora insuficientes.
Pior é não ter nada para explicar. Pior ainda é explicar sem saber. Outras vezes, damos muita importância a fatos que têm pouca ou nenhuma importância.
Minhas críticas, às vezes excessivas e irônicas, ao futebol que se joga hoje no Brasil são mais ao desinteresse dos técnicos com a qualidade e a beleza do jogo do que com o nível técnico dos atletas. Quando o jogo é feio e ruim, o que é comum, os treinadores colocam a culpa na falta de craques. Mesmo com a saída de tantos jogadores, a qualidade ainda é boa, surpreendente. A renovação não para, apesar de tantos "professores" mal preparados.
Na terça-feira, contra a Inter, o Barcelona, mesmo sem dois de seus melhores jogadores, Messi e Ibrahimovic, deu uma aula de como se jogar bem, bonito e com eficiência.
O Barcelona marca muito, por pressão, e joga. Quem joga bem costuma jogar bonito. Quem joga bem é o time, o conjunto. Os craques decidem. Se Messi e Ibrahimovic tivessem jogado, o Barcelona teria grande chance de golear.
Contra o Real Madrid, é diferente. Do outro lado, estão Kaká e Cristiano Ronaldo e um adversário que não tem medo do Barcelona.
Na Inglaterra, teremos o jogo entre o melhor time, Chelsea, por ter mais craques, contra o que joga mais bonito, Arsenal. Nem sempre o que tem mais craques joga mais bonito.
O emocionante Brasileirão, que pode ter hoje o campeão, deve ser decidido por um ponto, uma vitória ou um gol a mais, ou por dezenas de coisas comuns que surgem em uma partida, mas que não sabemos onde e quando vão ocorrer.
É o imponderável, um fator decisivo em um jogo equilibrado.
Quando tudo terminar, poderemos dar milhões de explicações, mesmo sem compreender o essencial.

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