Três casos que estavam aí pela mídia. Três perguntas que não me saem da cabeça.
Executivo - Um acampamento indígena é atacado e um cacique alvejado a balas. Representantes do governo federal repudiam fortemente o ocorrido e demandam rápida investigacão sobre as causas do atentado.
Pergunta cretina: Se, em última instância, for “descoberto” que a razão principal é a incompetência do próprio Estado brasileiro em devolver as terras ocupadas ilegalmente pela agropecuária, o governo topa indenizar os índios com o dobro do valor que foi emprestado pelos bancos públicos a essas fazendas?
Legislativo - Quatro funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego são emboscados e chacinados em Unaí (MG), em 2004, por fiscalizar fazendas da região. Até agora ninguém foi julgado. Mas a Assembléia Legislativa de Minas Gerais condecorou um dos acusados de ser o mandante do crime.
Outra pergunta cretina: A Assembléia Legislativa do Pará não poderia condecorar também alguns fazendeiros da região de Marabá que conseguiram a proeza de não terem sido citados no inquérito policial do Massacre dos 19 trabalhadores rurais em Eldorado dos Carajás? Ou os responsáveis pela Segurança Pública no Estado que, provavelmente, nunca responderão por isso? Dando certo, rola pedir para a Assembléia Legislativa de São Paulo fazer o mesmo quanto ao Massacre dos 111 no Carandiru?
Judiciário - O Tribunal de Justiça de São Paulo condenou o desembargador Teodomiro Cerilo Mendez Fernandez a pagar R$ 238 mil por espancar um homem dentro de uma Delegacia em 1993. Ele o havia “confundido” com um assaltante. Teodomiro chegou a ser condenado a quase cinco meses de prisão, mas o crime prescreveu. A mesma Justiça paulista mandou Maria Aparecida para a cadeia por ter furtado um xampu e um condicionador (ela perdeu um olho enquanto estava presa). Sueli também foi condenada pelo roubo de dois pacotes de bolacha e um queijo minas.
Mais uma pergunta cretina, essa com opções: O erro de Aparecida e Sueli foi a) não terem espancado ninguém na saída do supermercado, b) viverem em uma sociedade em que o direito à propriedade é mais importante que o direito à dignidade e à vida ou c) terem nascido pobres em um país onde o acesso à Justiça depende de quanto você tem em caixa?
Caros leitores/comentaristas,
Para essas três perguntas só há uma única resposta: “Os três poderes da República não representam, de fato e de direito, a nação brasilera como um todo.”
O Estado permanece sequestrado, desde sua origem, por uma “casta” que
usa as instituições republicanas para garantir à sua condição dominante.
E para o “resto” o que resta? Assistencialismos, aqui ou acolá, vindos das mais diferentes colorações partidárias e nada mais. Principalmente, quando essas benesses garantem reeleições ad infinitum.
O que move “corações” e “mentes” não é um projeto de nação, um projeto de país, mas sim um projeto de poder. Enquanto nossa realidade for esta descobriremos na resposta as perguntas cretinas, que a cretinice, das mesmas, é produzida por uma “casta” igualmente cretina.
Prover indivíduos daquilo que os tornaria autônomos seria o meio mais eficaz para romper com essa sequência perversa que inclui: assistencialismos, votos e poder.
Por outro lado a ruptura pode surgir da mobilização dos indivíduos em grupos organizados no sentido de buscar seus direitos enquanto cidadãos,
como é o caso dos movimentos sociais que no Brasil são criminalizados, o que não me surpreende, nem um pouco, nossas elites sempre sonharam com um país em que as cútis fossem mais alvas e nunca imaginaram uma nação formada por índios, negros e mestiços. Presença marcante nesses movimentos.
Vejam vocês, mais de dois séculos passados da Revolução Francesa, vivemos em um país em que lutar por direitos é visto, por muitos, como um ato criminoso.
E acreditem! Direitos, diga-se de passagem, constitucionais. Estão todos lá na nossa Carta Magna, mas nunca saíram do papel! E nem vão sair, pois só o exercício pleno da cidadania pode fazer com que aquilo que está no papel vire realidade. E, assim, podemos até poupar as cabeças dos nossos “monarcas” nem precisaremos mandá-los para guilhotina.
Eu fico bastante impressionado com as manifestações neste blog de um grupo de pessoas, não quero rotular ninguém, por isso não vou usar nenhuma forma de classificá-los, que lutam com todas as suas forças para negar a legitimidade dos movimentos sociais.
Considero que só o adensamento dos movimentos sociais e a participação progressiva dos indivíduos no processo político podem dar fim às perguntas cretinas.
Enfim, o Estado Democrático de Direito será uma realidade no dia em que for possível olhar para os poderes da nação e nos ver a todos representados.
Sem mais, abraços!!