Polêmica e eficiente, ministra Eliana Calmon comemora 10 anos de STJ
Primeira mulher a integrar um tribunal superior, a baiana Eliana Calmon completa 10 anos no Superior Tribunal de Justiça sentindo-se realizada como magistrada e como cidadã. Diferentemente do que esperava, a ministra não sentiu na Corte discriminação alguma, não encontrando no ambiente, entre os colegas, um comportamento que a lembrasse o fato de ser mulher.
“A barreira que tive d romper era falsa e, sendo falsa, ruiu pela minha determinação. Explico: quando me candidatei a uma vaga no STJ, ouvi de alguns colegas, com ironia, o absurdo da minha pretensão. Entendiam alguns que os ministros do Tribunal não escolheriam uma mulher para integrar a lista tríplice, especialmente como eu, contestadora, irreverente, juíza ativista e ferrenha crítica da estrutura do Poder Judiciário. Entrei na lista, mas o presidente da República nomeou outro juiz. Não desisti e, meses depois, candidatei-me novamente e consegui a vaga”, afirma.
Tornar-se ministra mudou muita coisa na vida da, então, desembargadora federal. O aumento de trabalho e de responsabilidade alterou a sua rotina de vida. “Confesso que, em parte, a pesada rotina que enfrento é pelo entendimento que tenho de que não basta chegar a um cargo. É preciso mostrar por que se chegou, principalmente no meu caso, quando a Nação e as mulheres tanto festejaram. Tenho a responsabilidade histórica de dar satisfação do meu trabalho a todos que acreditaram que era eu merecedora do título”, emociona-se.
Durante sua vida, Eliana Calmon acostumou-se com ineditismos. Em 1974, surpreendeu ao assumir como procuradora da República antes dos 30 anos. Era a primeira vez que o Nordeste
via uma mulher no Ministério Público Federal.
A quebra de paradigmas não foi problema para ela, que seguiu o caminho natural para alguém com firmeza e brilhantismo. Em 1979, ingressou na magistratura, no cargo de juíza federal. Seguiu para o TRF da 1ª Região e, em 1999, chegou ao STJ para fazer história e abrir caminho
às mulheres dedicadas ao Direito. Atualmente, 13 ministras ocupam cargos em Tribunais Superiores.
“No Judiciário, fui tudo o que eu gostaria de ser, sem ambições outras senão a de ser simplesmente julgadora. Gosto de julgar, gosto dos processos, gosto do cheiro dos autos. A atividade que mais me gratifica é a atividade judicante. Existe coisa melhor para quem escolheu a profissão de juiz e, depois de 30 anos, continua a achar que fez a escolha certa?”, confessa.
Em seus 10 anos de STJ, a ministra Eliana Calmon levou a julgamento, em sessão, 28.594 processos. Individualmente, decidiu 75.449 questões. O ritmo de trabalho no seu gabinete não
combina com a imagem preconcebida que se tem do Judiciário. Há um ano e meio, a ministra implantou o controle de produtividade com o objetivo de reduzir o número de processos. Cada servidor tem cotas diárias e mensais de produção.
Como uma boa pimenta baiana, Eliana Calmon nunca almejou a unanimidade. Mas quem conhece seu trabalho sabe que nela se encontra o que mais se espera num magistrado: conhecimento da lei e do processo. Em 2005, ela foi vencedora da segunda edição do prêmio
“Mulheres mais influentes do Brasil”, da revista Forbes, na categoria Jurídico. Apaixonada pelo Tribunal que compõe, a ministra o considera a mais importante Corte para o cidadão. “A criação do STJ resgatou um grande débito para com a Nação.
É um laboratório magnífico, por onde passam os mais sérios e os mais pitorescos episódios da vida nacional”, conclui.
Fonte: TRF1 em Pauta
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