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terça-feira, 21 de outubro de 2008

A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO CASO ELOÁ

Permitam-me um aparte antes da leitura do artigo que segue abaixo.

Mantak Chia, filósofo chinês, escreve excelente tema sobre a dominação do homem, pela força, desde os tempos imemoriais, sobre a mulher, o sexo e sua prole.
"Que pena! Um pico de montanha do tamanho de uma polegada quadrada tem sido a fonte de grande inspiração e desgraça há séculos” – Poeta chinês anônimo sobre a obsessão do homem pelo sexo da mulher. 
É lamentável mesmo que o homem, inferior sexualmente à mulher, pois só ela tem a capacidade de engravidar e gerar vida, e é o único ser que possui órgão sexual exclusivo para o prazer (o clitóris), não saiba lidar com esse aspecto frustrante, já que lhe foi dada a força e muito pouco de ternura, biologicamente falando.
Do contrário, muitas das nossas atitudes são valores de educação, moral e social, que nos condicionam, e, realmente, como o artigo descreve, os homens não são educados para respeitar as mulheres, e, com raras exceções, respeitam a mãe, e só.
"Sad but true", mas precisamos mudar essa realidade. Assim, como a mulher precisa respeitar mais a si mesma para que não receba apenas a pecha de vulgaridade que vemos no dia-a-dia.

Fraternalmente, João Damasceno.

Eloá. O que as mídias e os especialistas não discutem. Por Sandra Raquew dos Santos Azevedo

Há menos de 24 h do trágico desfecho do seqüestro de Eloá Cristina Pimentel, por Lindemberg Alves, todos atônitos procuramos “compreender”, via mediação dos meios de comunicação social e de especialistas da segurança pública, psicólogos, e outros, um fato presente cotidianamente no noticiário: a violência contra as mulheres.

Muitas são as explicações que tentam dar conta do comportamento do jovem, cujo perfil durante o processo de negociação fora retratado pelos meios como de um rapaz tranqüilo, trabalhador, que tinha planos para casar. “Dificuldade de lidar com as frustrações”; “comportamento passional”, “de tolerância muito baixa às frustrações”, entre outros argumentos são discutidos publicamente em jornais, sites, rádios, enfim, em todo processo de agendamento desta lamentável crônica de mais uma tragédia midiatizada.

Inúmeros aspectos deste acontecimento são ressaltados na cobertura: o lugar, os protagonistas, o tempo, amigos, imagens, os momentos de negociação, os lugares de origem de Eloá e Lindemberg, as imagens... Todavia há um aspecto a ser considerado nesta notícia, como em tantas outras que possui semelhança com o seqüestro de Eloá e Nayara, o fato de que se trata de crimes que se relacionam com as desigualdades de gênero e que se não discutirmos também nos noticiários esta face da violência, torna-se muito difícil a superação  de algo que pode ser considerado, lamentavelmente, um padrão cultural de se matar mulheres.

Um breve monitoramento de mídia permite perceber a brutalidade e reificação de crimes como estes: eles não são apenas crimes passionais, eles podem ser situados numa teia complexa de construção de valores sociais que forjam um feminino fraco, vulnerável, incapaz e sem condições de decidir a própria vida, em contraposição a um modelo de masculinidade rígido e legitimado socialmente  a partir da força, da dominação e do controle. São de certa maneira estes alguns dos elementos que mantém os mecanismos psíquicos do poder na constituição do sujeito e a na construção da sujeição.

Perceber os gêneros como processo de mediação do social é urgente para que a gente se dê conta da violência contra a mulher como um fenômeno social cujo aparecimento cotidiano nas mídias também precisa ser interpretado, refletido com e a partir dos veículos de comunicação.

A motivação de Lindemberg em manter seqüestrada Eloá e tentar por fim a vida da jovem se inter-relaciona com outros fatos conhecidos da sociedade brasileira, como os casos Ângela Diniz, Sandra Gominde, Daniela Perez, e ainda de inúmeros casos de violência e homicídios femininos que são noticiados, mas que carecem não de uma tentativa de tentar compreender o comportamento masculino, mas de questionar os valores sociais que se reproduzem nas trocas simbólicas e tecem ainda, tristemente, este predomínio do falo que oprime e extermina.

O tiro na virilha de Eloá não é só uma metáfora, mas uma expressão do ódio da tentativa frustrada de continuar mantendo o exercício do controle sobre o corpo das mulheres, por isto me sinto hoje também transpassada por esta bala.

Numa das notícias veiculadas hoje dois personagens sobrenaturais surgiram: um anjinho e um diabinho que acompanhavam Lindemberg. Parece inacreditável, mas este recurso, muito comum entre homens que praticam violência contra as mulheres, aparece mais uma vez como uma máscara, uma performance que busca esconder  o lado perverso de um imaginário social que em momentos como este é despertado pelos disparos protagonizados por um homem que representa neste instante os mecanismos simbólicos que negam cotidianamente às mulheres o seu direito a vida.

Sandra Raquew dos Santos Azevedo, jornalista.

http://etnografiasdoinvisivel.blogspot.com/

2 comentários:

  1. João tubo bom...

    Bem primeiramente quero parabenizá-lo pelo seu Blog, e comentar que Crimes como Eloá só vem acrescentar ainda mais as estátisticas da violência contra mulher , e pior do que isto é a banalização deles.
    Sou mulher, mãe, profissional , cidadã e me vejo perplexa de como vem aumentando a violência doméstica , sobretudo a mulheres que ainda nem chegaram a vida adulta.É lamentável.
    Um forte abraço, Carolina Magna

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  2. Reforçando a tese da Sandra, a PM paulista se comportou com todas as aparências de cumplicidade com o crime. Não consegui entender porque tanto cuidado em preservar a vida do sequestrador por ser um jovem e pouco empenho em salvar a vítima. E entendo menos ainda como é que se devolve ou cria todas as oportunidades para devolver uma vítima que já havia escapado ao cativeiro. É muito descaso com duas vidas femininas. Parece incompetência, mas parece negligência por se tratar de mulher.

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