HISTÓRIA
O Brasil de Darwin
Em sua passagem pelo país, em 1832, o cientista ficou admirado com a exuberância da natureza. E chocado com o comportamento dos brasileiros
Publicado em 07/03/2009 | ROGERIO WALDRIGUES GALINDOO
Primeira edição se esgotou
“Como é que esse livro nunca havia sido publicado no Brasil?”, pergunta retoricamente o professor Gilberto de Castro. Diretor da Editora da UFPR desde o mês passado, o professor conta que a primeira impressão do Diário do Beagle vendeu inteira. Eram apenas mil livros – mas isso, pensando no mercado brasileiro, não é nada desprezível. Agora, a Editora da UFPR já tirou mais mil exemplraes. E continua vendendo bem.
Antes da edição da UFPR, havia apenas trechos traduzidos para o português. “É até estranho pensar que a imprensa fale tanto desse livro e que ele não estivesse disponível no país”, diz Castro, que dá o crédito da publicação a seu antecessor no cargo, Luís Bueno.
A obra de Darwin é uma das mais importantes do atual catálogo da Editora da UFPR. Mas em várias áreas – literatura, sociologia e história, por exemplo – a editora tem conseguido publicar obras inéditas e importantes.
Serviço: para conhecer o catálogo da Editora da UFPR, acesse www.editoraufpr.br
Trecho
•••
“O capitão Paget nos fez inúmeras visitas e é sempre muito divertido; ele mencionou em presença de pessoas que teriam, caso pudessem, contradito suas informações, alguns fatos sobre a escravidão tão revoltantes que, houvesse eu lido a respeito delas na Inglaterra, teria atribuído ao zelo crédulo de gente bem-intencionada. A extensão do comércio realizado; a ferocidade com que é defendido; as respeitáveis (!) pessoas que estão envolvidas nele passam longe de ser exageradas no que lemos.”
Charles Darwin
•••
No Diário do Beagle, fica claro que a impressão de Darwin sobre o Brasil se divide em duas partes completamente distintas. De um lado, a beleza dos vales, das florestas, dos rios, a diversidade das espécies de plantas e de animais – tudo fascinava o pesquisador. De outro, o comportamento dos brasileiros impressionava Darwin de maneira bem diferente.
“Os brasileiros, até onde vai minha capacidade de julgamento, possuem somente uma pequena quantia daquelas qualidades que dão dignidade à humanidade”, escreveu em 3 de julho de 1832. “Ignorantes, covardes e indolentes ao extremo; hospitaleiros e bem-humorados enquanto isso não lhes causar problemas”, completa. O que mais chocou Darwin em sua passagem pelo Brasil foi, sem dúvida, o tratamento dado aos negros. “O senhor Earl viu um pedaço de um membro, que se arrancou com um aparelho de tortura, e que não sem freqüência eles guardam em casa”.
O horror à escravidão, segundo quem pesquisou as viagens de europeus ao Brasil do século 19, é uma constante. “A opinião de Darwin sobre os maus-tratos destinados aos escravos no Brasil não é propriamente uma exceção, pois vários outros viajantes estrangeiros que visitaram o Brasil ao longo do século 19 produziram testemunhos parecidos”, afirma a historiadora Eneida Sela, doutora em História Social pela Unicamp e autora de uma pesquisa sobre os viajantes europeus ao Brasil do século 19. “Porém, é seguro afirmar que a maioria desses autores oitocentistas relata justamente o contrário, dando ênfase ao bom tratamento que os senhores destinavam a seus cativos, ainda que criticassem severamente a escravidão enquanto instituição”.
Para construir um de seus romances, Contra o Brasil, o escritor Diogo Mainardi pesquisou em bibliotecas européias tudo o que viajantes disseram sobre o país em séculos de história. O personagem central do livro, definido pelo autor como um “anti-Policarpo Quaresma”, se especializa em citar os detratores do Brasil. E são muitos. “O tratamento dado aos negros, a falta de higiene e a corrupção são os três pontos que mais causavam indignação aos europeus”, diz Mainardi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário