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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Brasil não pode ficar em cima do muro, diz FT

Como dito em comentário anterior.
JD


Financial Times afirma que, prestes a se tornar potência global, o Brasil não poderá mais ser amigo de todos, como no passado

08 de fevereiro de 2012 | 11h 06



O jornal britânico Financial Times afirma em sua edição desta quarta-feira que, prestes a se tornar potência global, o Brasil não poderá mais "ser amigo de todos", especialmente como no período da Guerra Fria, no qual o país teria assumido uma postura neutra, segundo a publicação.
O jornal dedica meia página a um texto sobre a blogueira cubana Yoani Sánchez, a quem chama de principal voz da oposição ao regime castrista, e comenta o papel do Brasil na recente tentativa da autora do blog Generation Y de deixar a ilha para uma visita ao Brasil.
Escrevendo de São Paulo, o colunista Joe Leahy usa o episódio para comparar a política a externa do governo Dilma Rousseff em relação a seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Sob o título "Política externa do Brasil não pode ficar para sempre em cima do muro", Leahy lembra que, ao ser cobrada por ativistas cubanos para que se manifestasse sobre Direitos Humanos em Cuba, em sua primeira visita como presidente ao país, Dilma Roussef preferiu "apontar o dedo para os Estados Unidos". Na época, Dilma afirmou que todos os países têm telhado de vidro no tema direitos humanos e citou a Base de Guantánamo, que causa constrangimentos ao governo americano.
Postura ambivalente
O colunista também destaca que o governo brasileiro concedeu visto à blogueira, embora Cuba tenha vetado sua saída para o lançamento de um filme no Brasil. Dilma, diz Leahy, "fez o que podia", considerados os laços históricos de seu partido, o PT, com o regime cubano.
O colunista do FT afirma, porém, que a recente "postura ambivalente" em relação a Cuba não significa continuidade do estilo de Lula, que, segundo ele, despertou a ira de Washington em casos como o da tentativa de Brasil e Turquia de convencerem o Irã a evitar retaliações das grandes potências e provar os fins pacíficos de sua política de enriquecimento de urânio. Leahy diz que Dilma pode surpreender quem a observar mais atentamente.
"Ao contrário (de Lula), Rousseff adotou uma postura mais pró-ativa", afirma, antes de citar a condenação do governo brasileiro à sentença de morte por apedrejamento de uma mulher no Irã e ao voto do Brasil na ONU favorável à investigação do tema Direitos Humanos no país asiático. A mudança, diz o colunista, foi notada em Teerã, o que fez o presidente Ahmedi-Nejad evitar o Brasil em seu recente giro pela América do Sul.
O colunista do Financial Times afirma que, na medida em que o Brasil se posiciona como potência global, os diplomatas do país terão que ser "mais assertivos sobre o que apóiam". E conclui: "Se o Brasil está prestes a se tornar potência global, não poderá mais ser amigo de todos". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Salário mínimo deveria ser R$ 2.398,82 para brasileiro arcar com despesas básicas


Economia
06/02/2012 - 15h39

Salário mínimo deveria ser R$ 2.398,82 para brasileiro arcar com despesas básicas

InfoMoney
SÃO PAULO - O brasileiro precisaria de um salário mínimo no valor de R$ 2.398,82 em janeiro, para conseguir arcar com suas despesas básicas, de acordo com dados divulgados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) nesta segunda-feira (6).
A entidade verificou que são necessárias 3,86 vezes o valor do salário mínimo vigente na data para suprir as demandas do trabalhador. O cálculo foi feito com base no mínimo de R$ 622, em vigor desde o mês passado.
Em dezembro, o valor necessário para suprir as necessidades mínimas do trabalhador era de R$ 2.329,35, sendo 4,27 vezes maior que o salário mínimo vigente naquele mês, que era de R$ 545.
O salário mínimo necessário é o que segue o preceito constitucional de atender às necessidades vitais do cidadão e de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, sendo reajustado periodicamente para preservar o poder de compra.
Cesta versus salário
O comprometimento com os gastos da cesta básica alcançava, em média, 43,03% do salário mínimo em janeiro, após a dedução da parcela referente à Previdência Social, ante os 48,11% necessários em dezembro de 2011. No mesmo período de 2011, o percentual comprometido era de 48,11%.
Confira o movimento do salário mínimo vigente e o necessário de janeiro de 2011 a janeiro deste ano:
MêsSalário vigenteSalário necessário
Janeiro/11R$ 540R$ 2.194,76
Fevereiro/11R$ 540R$ 2.194,18
Março/11R$ 545R$ 2.247,94
Abril/11R$ 545R$ 2.255,84
Maio/11R$ 545R$ 2.293,31
Junho/11R$ 545R$ 2.297,51
Julho/11R$ 545R$ 2.212,66
Agosto/11R$ 545R$ 2.278,77
Setembro/11R$ 545R$ 2.285,83
Outubro/11R$ 545R$ 2.329,94
Novembro/11R$ 545R$ 2.349,26
Dezembro/11R$ 545R$ 2.329,35
Janeiro/12R$ 622R$ 2.398,82
Fonte: Dieese

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Dilemas da diplomacia brasileira


O Brasil sempre pôde se sentir confortável sobre temas internacionais, pois não influía em nada e de nada era exigido.
Quando eventualmente convocado, mostrava-se dúbio, como no governo de Getúlio Vargas.
Porém, agora, quem alega postular um assento no Conselho de Segurança da ONU, terá que dizer e agir como quem crê em democracia, liberdade e direitos humanos.
Além de demonstrar que possui poder bélico o suficiente para fazer impor suas idéias e ideais, se os fatos assim o exigirem.
Ou, em sentido contrário, apenas poder bélico e financeiro, tal qual a Rússia e a China.
Ainda que faça negócios ou não venha fazê-lo, terá que assumir os ônus das escolhas.
Não dá mais para ficar em cima do muro, tal qual se vê no problema da Síria.
Aos invés de ficar tentando dar lição de moral nos EUA, tínhamos que partir para agenda de acordos bilaterais, tal qual o Chile e a China.
Os EUA criticam a China, mas isso não os impede de serem o maior investidor da economia chinesa e vice-versa.
Por último, os EUA estão muito satisfeitos com a nossa patriotada no Haiti, pois, afinal de contas, os haitianos não foram para lá.
Em suma, nós sequer temos ciência das nossas potencialidades.
JD





Para veterano do Itamaraty, talvez não tenha sido este o melhor momento de Dilma iniciar sua performance presidencial na ilha de Fidel e Raúl

05 de fevereiro de 2012 | 3h 48



Marcos Azambuja
Teria sido melhor se a presidente da República não tivesse ido agora a Cuba. Criou-se, para ela, uma situação para a qual mesmo a mais atenta diplomacia não encontraria uma solução satisfatória.
No Palácio da Revolução, Dilma passou em revista a tropa cubana - Wilson Pedrosa/AE
Wilson Pedrosa/AE
No Palácio da Revolução, Dilma passou em revista a tropa cubana
Como chefe de uma das grandes democracias mundiais, Dilma Rousseff fala e age com a legitimidade de quem chegou ao poder pela vontade do povo e com prazos definidos - medida sua vitória com a exatidão e a transparência dos votos bem contados -, e seu compromisso com a defesa dos direitos humanos tem sido reafirmado, com clareza, em diversas ocasiões.
Por outro lado, as etapas iniciais de sua trajetória política e as alianças que foram tecidas em sua volta por seus correligionários e aliados a colocam em uma posição em que uma medida de fidelidade, ou pelo menos de ampla tolerância, com o regime cubano é incontornável.
Não era possível, assim, que chegasse ao aeroporto José Martí, em Havana, e ali fizesse declarações que representassem uma censura pública às práticas do governo local no terreno dos direitos humanos e à vocação desse regime para eternizar-se no poder, o que já acontece há 52 anos. Não seria realista esperar que isso pudesse acontecer.
Não me parece impróprio que enviemos, com a frequência que se fizer necessária, missões de alto nível a Cuba. Identifico ali importantes interesses econômicos e comerciais brasileiros e não é difícil ver as oportunidades que se oferecem para que algumas de nossas grandes empresas consolidem e ampliem sua presença na ilha. Ajudá-las é um objetivo que se justifica com naturalidade e que faz parte das regras aceitas do jogo internacional.
Teria sido apropriado, no entanto, não colocar Cuba agora no circuito da nossa diplomacia presidencial, atividade em que os nossos três governantes mais recentes atuaram quase sempre com propriedade e sucesso. Para promover interesses econômicos temos, dentro da nossa frondosa orquestra ministerial, vários titulares de pastas que sem qualquer problema podem ser mobilizados para agir na promoção de nossos interesses setoriais e específicos.
O objetivo deveria ser o de preservar nossos governantes, hoje cercados de grande prestígio e visibilidade internacionais, de visitas e encontros com interlocutores que pretenderiam aproveitar o momento de sua presença para obter uma visibilidade e uma credibilidade que normalmente estariam fora de seu alcance. Na sua mais recente visita à America Latina, Ahmadinejad já não colocou Brasília em seu roteiro, e essa exclusão foi interpretada internacionalmente como um sinal de que a presidente do Brasil pretende manter umas distância mais prudente do líder iraniano.
Houve tempo - e isso faz pouco tempo - em que nossos governantes viajavam para buscar empréstimos. Hoje, em vários casos, somos nós que fazemos empréstimos financeiros e, em uma outra dimensão da palavra, são os nossos mandatários que emprestam seu prestígio a governos e governantes desacreditados.
A visita a Cuba poderia ter sido realizada sem a presença da presidente Dilma Rousseff , que ficou inibida de dizer aquilo em que acredita e que corresponde à nossa adesão, não questionada, a valores universais que são desrespeitados pelo regime cubano.
Fez, ao contrário, e sem hesitação, uma condenação veemente da infâmia que tem sido a prisão de supostos terroristas na base de Guantánamo, enjaulados há vários anos, em muitos casos sem qualquer julgamento, o que constitui uma violação flagrante de seus direitos e uma mancha na reputação dos Estados Unidos.
A crítica ao que acontece em Guantánamo teria tido mais repercussão e seria mais equilibrada se fosse acompanhada de uma condenação não menos veemente a um governo autoritário e de um só partido, como é o cubano, e que controla, entre outras coisas, a liberdade de ir e vir de seus cidadãos.
O início ao mesmo o tempo romântico e heroico da revolução cubana deixou no Brasil uma reserva de afeição e uma imagem libertária que mais de meio século de uso abusivo do poder e a correspondente supressão das liberdades civis não conseguiram completamente erodir.
Sem a legitimidade que só a governança democrática confere e com uma longa história de desacertos na gestão da economia, o que o governo cubano soube cultivar foi a ideia de que sua legitimidade vem da resistência tenaz às ameaças políticas e ao bloqueio econômico dos Estados Unidos. Não existiria, assim, uma Cuba vista em si mesma, mas sim e essencialmente o imaginado baluarte contra os Estados Unidos. Não se é, a rigor, pró-cubano, mas sim e furiosamente antiamericano.
Talvez isso fique mais claro ao nos darmos conta de que não há entre nós e de maneira expressiva um culto à antiga União Soviética nem à China maoísta, matrizes da Cuba atual, mas o apoio ao esclerosado regime cubano perdura intacto e sempre na medida, que é essencialmente um símbolo da hostilidade a Washington.
A lição a aprender é que, em diplomacia, muitas vezes a escolha de um itinerário errado determina, mesmo antes de uma viagem, o que provavelmente vai acontecer. Não se vai a Teerã impunemente. Prestigiar Chaves em Caracas tem seus riscos. Uma visita a Cuba tem seu preço. Nesses como em outros casos trata-se de países à espreita de visitantes qualificados para fazer pagar, direta ou indiretamente, um tributo às políticas falidas que representam.
MARCOS AZAMBUJA É EMBAIXADOR, EX-CHEFE DA DELEGAÇÃO DO BRASIL PARA ASSUNTOS DE DESARMAMENTO E ATUAL VICE-PRESIDENTE DO CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS