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terça-feira, 13 de abril de 2010

Um advogado contra o Papa

Seu desejo confesso – mas impossível – é interpelar o Papa em um tribunal norte-americano sob juramento. "O senhor jura dizer a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade? Com a ajuda de Deus...". Ninguém lerá essa prerrogativa para Bento XVI, porque ele é um chefe de Estado – e muito poderoso. Mas esse é o objetivo de Jeff Anderson: fazer com que o Pontífice se sente no banco dos réus noVaticano por sua tolerância diante de milhares de casos de abusos sexuaiscometidos por membros da Igreja durante décadas.
A reportagem é de Yolanda Monge, publicada no jornal El País, 11-04-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Anderson não chama de vítimas as crianças que sofreram esses abusos. Para ele, são sobreviventes de uma tragédia humana. A luta desse advogado de um escritório deSaint Paul (Minnesota) contra a chaga da pedofilia começou há quase três décadas, em 1983. Então, uma família recorreu ao seu escritório para lhe relatar que seu filho havia sofrido abusos sexuais por parte do padre da congregação. E que haviam acudido ao bispo, e este não havia feito nada. Assim como a polícia.
"De repente, descobri que existia uma grande conspiração para encobrir os casos", relata Anderson. "Todo mundo havia mentido dizendo que não sabia de nada, e todos sabiam o que acontecia", continua. "O rastro dessas mentiras levava diretamente ao Vaticano. Sofri uma grande comoção pela grande farsa que se representava".
Naquele momento, a Igreja norte-americana tentou comprar o silêncio daquela família com uma grande soma de dinheiro. "Pelo bem de outras crianças, não aceitamos e tornamos o caso público". Foi o começo de uma catarata de denúncias de outros sobreviventes que encontraram nas primeiras páginas dos jornais ou nos programas de televisão o impulso para denunciar. Tinham direito a que a justiça fosse feita.
Mas a empatia razoável de Anderson para com aqueles sobreviventes se converteria, dez anos depois de ter começado sua luta legal contra os representantes da Igreja, em uma cruzada pessoal. Sua filha mais velha revelou um dia – quando já era adulta – que havia sofrido abusos sexuais aos oito anos pelas mãos de um terapeuta, antigo sacerdote, ao qual recorreu durante o duro processo de divórcio de seus pais. "O problema era endêmico da cultura clerical, e o responsável, em última instância, era o Vaticano", assegura esse profissional, que se define como um "ex-ateu" que recuperou a fé em Deus por meio de sua reabilitação como alcoólatra.
Jeff Anderson e seu sócio Mike Finnegan, lutaram e lutaram nos tribunais dos EUA em milhares de casos. Não sabem quanto dinheiro ganharam para as vítimas, mas, em 2002, calculavam esse número em mais de 60 milhões de dólares. O nome de Anderson voltou aos meios de comunicação alguns dias antes da Semana Santa, quando o jornal The New York Times publicou documentos que provavam que um padre do Wisconsin,Lawrence Murphy (hoje falecido), havia abusado sexualmente de cerca de 200 crianças surdas entre 1950 e 1974, e que o Vaticano não fez nada para lhe afastar do sacerdócio. Esses documentos situam o Papa no olho do furacão, já que Bento XVI, naquele momento, era o diretor da Congregação para a Doutrina da Fé.

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