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domingo, 11 de julho de 2010

Para psicólogos, caso Bruno ilustra falta de limites comum em esportistas e celebridades

A prisão do goleiro Bruno, do Flamengo, suspeito de participação no desaparecimento da ex-amante Eliza Samudio, chamou a atenção para abusos cometidos por diversas celebridades esportivas, segundo especialistas em psicologia do esporte.

“É uma pena o final de uma carreira tão brilhante”, diz o presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, João Ricardo Cozac. “A linha que une todos os casos de escândalos envolvendo celebridades do esporte, no mundo inteiro, é uma pseudo-idealização que esses atletas têm de si mesmos”, afirma o psicólogo.
“A ideia de que podem tudo, como se estivessem acima de qualquer suspeita, de qualquer crítica, de qualquer julgamento, que está ligada a uma inadequação social”, diz Cozac. “Como se não tivessem noção de limites, de até onde podem ir.”
Origem e infância
Segundo Cozac, no Brasil é comum que atletas e celebridades em geral tenham origem humilde e acabem enfrentando dificuldades para se adaptar a uma mudança brusca de status social e econômico. “Eles vão se isolando cada vez mais de um mundo social e de uma realidade saudável”, diz Cozac. “Usam o dinheiro para conseguir tudo o que querem, não precisam fazer nada.”
O isolamento é apontado por especialistas como uma característica comum em atletas e outras celebridades, e não apenas nos casos que envolvem esportistas e artistas com origem em classes sociais mais baixas. “Eles têm vidas solitárias”, diz a psicóloga americana Yolanda Bruce Brooks, fundadora do instituto The Sports Life Transitions, especializado no trabalho com atletas e equipes.
“Desde a infância, as pessoas começam a tratá-los de maneira diferente, a fazer exceções”, afirma Brooks, que há mais de 20 anos trabalha com atletas dos mais variados esportes e suas famílias. Com o tempo, diz Brooks, muitos acabam com a impressão de que não precisam seguir as mesmas regras aplicadas ao resto da sociedade.
Referências
Outro ponto em comum associado a atletas envolvidos em escândalos é uma infância sem referências afetivas. 
Bruno foi criado pela avó, na periferia de Belo Horizonte. O pugilista americano Mike Tyson, que ao longo de sua carreira protagonizou vários escândalos e chegou a ser preso por estupro, foi abandonado pelo pai aos dois anos de idade. “Muitos têm histórias familiares complexas, de abandono, de falta de modelos femininos. Têm lacunas no desenvolvimento emocional”, diz Cozac.

No entanto, nem todos se encaixam nesse modelo. “Kobe Bryant, por exemplo, teve uma figura paterna bem presente”, diz Brooks, referindo-se ao astro do basquete americano, filho de um ex-jogador e treinador, que já enfrentou uma acusação de estupro.
Segundo a psicóloga americana, ao viver suas vidas em público o tempo todo, essas celebridades acabam sofrendo também um impacto maior quando cometem algum erro. “Mas eles sabem que vivem suas vidas em público e, consequentemente, estão sujeitos a isso”, diz Brooks. “São pessoas como nós, às vezes cometem erros de julgamento. Mas devem ser responsabilizados por seus erros.”

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