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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O pequeno poder torna as pessoas mais cruéis e grosseiras

Por Lucy Kellaway

Na semana passada, estive no escritório de uma conhecida companhia para entrevistar seu presidente-executivo. Na recepção, um segurança me deu um crachá mas não me deixou passar pela catraca, alegando que eu havia prendido o crachá em minha bolsa, e não em meu casaco.Quando fiz o que pedia, ele me deixou entrar, mas não sem antes me alertar, irritado, de que eu não poderia sair se o crachá não fosse devolvido intacto. Do outro lado da barreira, o CEO esperava, cheio de charme e cortesia. O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente, conforme escreveu Lord Acton de maneira memorável. Mas acho que ele não estava completamente certo. Na minha opinião, o poder pode corromper, mas o poder absoluto corrompe bem menos que o poder parcial - conforme demonstra o caso envolvendo o segurança e o presidente-executivo.Essa tese é sustentada por um novo estudo que mostra que as pessoas que têm um pouco de poder, mas não possuem status, podem se comportar de maneira grosseira e ter prazer humilhando os outros. O estudo, que será publicado no "Journal of Experimental Social Psychology", descreve uma experiência em que estudantes foram orientados a dar ordens a outros. Aqueles designados para funções mais modestas tenderam a se deliciar ao forçar pessoas a fazerem coisas humilhantes - como fazê-las latir como um cachorro -, enquanto aqueles que receberam um status mais elevado trataram as pessoas com mais respeito. Ler essa experiência me levou direto para uma cena de tortura e crueldade ocorrida seis semanas atrás no aeroporto de Heathrow. Eu havia chegado absurdamente cedo para embarcar meu filho em um voo para os Estados Unidos. Mas, após uma espera interminável no balcão da Delta, descobri que havia esquecido de conseguir um visto eletrônico para ele.Então, teve início uma peregrinação pelo aeroporto na busca por um computador para digitar as informações e, finalmente, conseguir o visto. Depois, corremos de volta para o check-in, onde um homem com um walkie-talkie olhava para seu relógio. Ainda faltavam 58 minutos para o avião decolar, mas ele gesticulou com a cabeça: tarde demais. Meu filho começou a chorar. Eu implorei, humilhei-me e teria facilmente latido como um cachorro."Sinto muito, madame", disse ele com a voz menos pesarosa que já ouvi. Em seus olhos havia um brilho sádico. Ao relatar isso, não estou dizendo que todas as pessoas com funções mais modestas gostam de tiranizar uma mãe incompetente e histérica; alguns deles são muito gentis.No entanto, há uma síndrome assolando as pessoas com cargos mais baixos que tende a ser subestimada na teoria administrativa. Frequentemente observamos que as pessoas no topo da hierarquia são tiranas, mas nos esquecemos de que as pessoas que estão mais abaixo na pirâmide podem ser ainda mais. O que não se trata realmente de uma surpresa: se eu fosse segurança ou trabalhasse no inferno de Heathrow, também seria muito malvada.Os pesquisadores afirmam que a melhor maneira de desencorajar a tirania nos escalões mais baixos é ter certeza de que os cargos não serão um beco sem saída e que será possível progredir na empresa. Não concordo. As pessoas mais grossas com quem trabalhei eram administradores menos graduados, empenhados em subir na hierarquia.Lembro-me de um determinado homem com quem trabalhei brevemente quando tinha meus 20 e poucos anos. Ele estava apenas um degrau acima de mim, mas, mesmo assim, costumava se deliciar lendo em voz alta os erros dos meus textos para que toda a redação ouvisse.Hoje ele tem, de fato, um belo cargo e é bem menos desagradável. Encontrei-o em uma festa outro dia e ele até chegou a fazer uma piada consigo mesmo. É verdade que nem todo mundo fica mais civilizado quando sobe na hierarquia. Gordon Brown não ficou mais polido por causa da experiência no poder. Assim como Joseph Stalin.Mas, para a maioria das pessoas, o sucesso parece significar que elas ficaram mais visivelmente agradáveis. Elas são mais confiantes e não dão tantas cotoveladas. Seus cargos são mais interessantes e todos os bajulam. Como se isso tudo não fosse suficiente, sempre há o consolo da remuneração estratosférica. O poder absoluto não torna boas as pessoas ruins, mas há menos necessidade de ser desagradável apenas por diversão. A corrupção funciona de uma maneira diferente no topo: as pessoas realmente poderosas desaparecem em uma névoa de vaidade de tal forma que as outras pessoas não são importantes o suficiente para serem torturadas ou merecer consideração.Se alguém duvida disso, posso citar outra pesquisa que será publicada em breve pela Organisational Behaviour and Human Decision Processes. Ela prova que os poderosos não prestam atenção nas outras pessoas. A única surpresa aqui é que foram precisos quatro acadêmicos da Universidade de Nova York e dois anos e meio para se chegar a uma conclusão que todo mundo já conhecia.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira 


Concordo plenamente com o texto, especialmente quanto a sua conclusão: o óbvio do cotidiano.
Atualmente, as "ortoridades" que mais tenho medo, em razão da incapacidade intelectual, da incapacidade  pela deformação quanto aos valores da vida e do convívio social, do respeito ao próximo, da falta de educação básica e da incapacidade de prestar serviço ao público, da falta de treinamento para tanto, e do poder de arma de possuem em mãos; são os vigilantes e seguranças.
É por óbvio que existem exceções e que eles também sofrem várias mazelas, pois trabalham em empresas desorganizadas, que descumprem o contrato de trabalho, com baixa remuneração, não possuem nenhum tipo de amparo, apoio ou treinamento para lidar com o público. Apenas lhes é dito e lhes é cobrado que são segurança, autoridade, com arma, com poder. Mas isso não é justificativa pelo péssimo tratamento que conferem às pessoas, usuárias dos serviços públicos.
Do outro lado, existem muitas pessoas boçais, idiotas, presunçosas, pedantes, que sequer respeitam a tais trabalhadores.
Eles são necessários e devemos exigir que sejam melhor preparados, treinados; mas todos nós devemos respeitá-los também enquanto trabalhadores e seres humanos.
Não raro nos deparamos com seguranças que "acham" que são policiais militares, com as mesmas competências e atribuições.
E tem mais, quanto mais o órgão ou empresas em que prestam serviços for mais "séria", de maior questão de segurança, por eles e pela administração assim erigidos, tais como os prédios da Justiça Federal, da Receita Federal, etc., mais brutos e mais desrespeitosos são os seguranças, inclusive as femininas. Os dos 'shoppings centers' também não ficam atrás não.
Francamente, dado o péssimo atendimento dos ditos seguranças no prédio da Justiça Federal em Suçuarana, no prédio dos Juizados especiais federais no CAB, no prédio da Petrobrás no Itaigara, no prédio da PGFN, dentre outros; meu cumprimento não passa de um bom-dia e obedeço a tudo quanto eles mandam, para não tomar um "baculejo" ou outra coisa pior e para não ser chamado pelos deselegantes e desrespeitosos "pssssssss, pssssssssss, psssssssiiiuuuuu!" ou "ôôôôuuuuuuuuuuuu!" "você aí! Parado! Tem que apresentar a identidade na portaria e passar pelo detector de metais!".
Faço ressalva quanto a Justiça do Trabalho, pois, mesmo sendo federal, não usa dos mesmos expedientes da Justiça Comum Federal. Seus terceirizados são melhores qualificados.
Esse pessoal da JF deve viver em outro mundo. Devem achar que todo mundo trama planos diabólicos para assassiná-los, cometer terrorismo, explodir bombas, etc. É muita pompa e muito dinheiro esperdiçado.
(Se bem, que em se tratando de Brasil, algumas bombas em alguns antros não seria má idéia).
Nós estamos vivendo um momento de loucura da sociedade, pois, para piorar a situação, o Estado brasileiro está terceirizando tudo, em todos os seu níveis, os serviços que são essenciais e próprios de um Estado, especialmente nos casos de segurança pública, onde tais vigilantes estão exercendo o poder de polícia e de fiscalização do Estado.
Não tenho a mínima idéia onde vamos parar. Talvez cheguemos ao absurdo que se pratica nos EUA, pois terceirizaram até as forças armadas, com empresas de mercenários que prestam serviços de guerra pelo mundo afora, tal qual se faz no Iraque.
JD

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