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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O QUE VEM POR AÍ (BRAVO MUNDO NOVO II)

GAZETA MERCANTIL - Seção Bahia, 27.07.00

Mais um desafio para o novo milênio 

“A profundidade das transformações que se processam nas últimas décadas nas ciências em geral, filosofia, arte, religião, valores éticos, sexualidade e os diversos aspectos da vida cotidiana de cada ser humano, faz com que nós, profissionais de RH, ou qualquer outro que tem algum compromisso e sente alguma parcela de responsabilidade com o bem-estar comum, reflitamos quanto ao desafio que o novo milênio representa para o homem, quanto a viver com dignas condições físicas, mentais e sociais.

A família nuclear passa por transformações radicais. Cresce o número de descasamentos e recasamentos com uma nova composição familiar, pois os filhos de cada cônjuge passam a compor o novo lar. Aumenta a produção independente de filhos, que não é mais privilégio das ‘mães solteiras’. Agora podemos notar o surgimento de um novo personagem, o pãe (pai que acumula funções de mãe). Passa a ser possível a adoção de crianças por casais homossexuais(?!?).

Existe uma mudança nos papéis que tradicionalmente eram conferidos aos pais, mães, avós, etc. Tudo isso pode e deve ser encarado com naturalidade, mas também gera confusão, principalmente para os filhos que, cada vez mais cedo, estão se emancipando da família nuclear. A clássica função de continente que a família exerce para os bebês e filhos menores tende a enfraquecer com os traumas precoces. Estes fatores têm contribuído para uma generalizada crise de identidade.

Temos assistido as mudanças dos valores éticos, morais e ideológicos que regem o modo de viver, que somadas à cobrança de uma velocidade para adaptação aos padrões vigentes, tornam os indivíduos ansiosos e confusos. Um dos fatores propulsores dessa angústia é o EXITISMO, ou seja, desde criança o indivíduo é programado pela família e pela sociedade a ser bem sucedido, o que o lança numa infindável busca por êxitos, deixando-o em constante sobressalto de vir satisfazer às expectativas que nele são depositadas, tornando-se muitas vezes um pesado fardo.

Os incríveis avanços tecnológicos, o projeto Genoma Humano, os experimentos acerca da reprodução de clones, a crescente legalização da prática do aborto, que faz com que muitos estudiosos da ética questionem: que tipo de ser é o embrião? Todos esses fatores estão forçando a humanidade a revisar as noções de moral e de ética que estão inseridas na cultura pós moderna.

O pós modernismo consiste em introduzir imagem no lugar de pensamento e palavra. Processa-se pelos meios de comunicação, principalmente pelos avançados recursos da informática, com a criação de imagens virtuais, gerando uma certa confusão entre o real e o imaginário. Isso representa um estímulo à busca de ilusões, simulacros e fetiches.

Na maneira pós moderna de ver o mundo predomina a inexistência de causa e efeito, logo ninguém é responsável por nada, pois responsabilidade pressupõe causa e efeito, e isso não é mais possível na nova cultura. Tudo é relativo. Passivamente, as pessoas tendem a substituir a articulação de sentidos por uma forma de pensar em vídeo-clips.

Bestialógico, mascara-se de respeitabilidade. Políticos conseguem êxito eleitoral com um discurso raso, sem conteúdo. São mais apresentadores de TV do que líderes que representem idéias.

Existe ainda a cultura do narcisismo na acirrada competição por ’um lugar ao sol’. Aquele que aparenta ser bem sucedido, para assim aplacar a necessidade de atingir as metas idealizadas pela família, sociedade e por ele mesmo, as quais podem ultrapassar suas inevitáveis limitações. A presença excessiva do narcisismo representa um alto custo para o indivíduo e para os que com ele convivem, pois passa a ter dificuldades em admitir limites, trocando o pensar, aprender, ter tolerância e amor pelas verdades pela onipotência, onisciência, prepotência. Com isso, tem aumentado o número de pessoas com carências emocionais, faltas, buracos negros internos geradores de uma busca desesperada por reconhecimento.

A tensão é clara. Há um conflito entre o sistema motivacional (o desejado individualmente pela maioria) e o sistema valorativo (o que seria desejável coletivamente). O sonho de uma vida com maior estabilidade social, mental e intelectual se choca com a realidade da força das mudanças sociais.

O desafio é encontrar valores e formas de vida que possam neutralizar e superar, em ambiente de liberdade, a ascendência do avanço tecnológico e seus efeitos colaterais sobre a psicologia humana.

O descontentamento é motor da mudança. O conflito entre valores sonhados e vividos é sintoma de ambivalência e alienação. Há uma guerra no peito de cada um. A pergunta que fica é a formulada por Keynes: ‘Por que não deveríamos começar a colher os frutos espirituais de nossas conquistas materiais?’”.

Ricardo Knychala Segger, Gerente de RH.

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